Bloco político-social progressista com as bandeiras da esquerda

Aldo Fornazieri vai ao ponto em matéria publicada pelo GGN na qual o professor afirma que o momento angular da disputa de rumos em curso no país será em 2018, nas eleições presidenciais, e propõe um giro na história, uma mudança de paradigmas conceituais e organizativos da esquerda.

Por Walter Sorrentino*

Diversas cidades no Brasil e no exterior irão lutar pela democracia na quinta

O Brasil ainda não completou seu projeto nacional de desenvolvimento. Eleições entre nós podem nos levar ao Norte ou ao Sul, e não apenas representar políticas instrumentais conservadoras ou social-democratas, próprias da alternância política em democracias eleitorais de massa.

O país voltou a uma encruzilhada. Esgotou-se o pacto político desenvolvimentista aberto em 2003 com a eleição “Carta aos Brasileiros”, com base no que se realizaram importantes transformações sociais, democráticas e no interesse nacional. Foi a primeira vez na história política brasileira em que forças convergentes nesses três componentes governaram o país.

Mas se fazia necessária nova geração de projetos programáticos para seguir adiante, num mundo cada vez mais hostil e assimétrico em forças, envolvendo reformas estruturais que foram postergadas ou ignoradas.

O projeto golpista em curso, na nova correlação de forças internas e externas, veem nisso também o fim do ciclo da Constituição de 1988, a Nova República. Para os setores econômicos dominantes, o Brasil “se encontra encurralado pelo Estado” e a Constituição expressa um “Estado que não cabe no PIB”. Proclamar o fim desse ciclo, como o fazem, se adequa a engatar de forma subordinada uma das dez maiores economias do mundo aos vagões da locomotiva neoliberal, o que exige radical reformulação (negação) do papel do Estado nacional como indutor do desenvolvimento, do bem-estar social e da democracia.

Vive-se, assim, uma transição, uma crise de projetos e de hegemonia, por diferentes razões e perspectivas. O campo popular porque cumpriu com êxito uma etapa de transformações, às quais não alcançamos dar outra qualidade, com reformas estruturais. As forças conservadoras porque não forjaram um consenso social-eleitoral forte que lhes possibilite o desígnio de alinhar uma das dez maiores economias do mundo com as cadeias globais neoliberais – embora estejam em franca ofensiva para retomar um ciclo conservador.

Essa transição tem desfecho incerto. Não há uma hegemonia estável para tais projetos e um novo consenso forte só pode se estabelecer com eleições presidenciais.

Nessa perspectiva, se coloca um período de lutas duro, complexo e prolongado para as forças populares e progressistas. Estrategicamente, será central preservar conquistas alcançadas, renovar caminhos para a retomada do projeto de desenvolvimento à base de reformas estruturais. Politicamente, o desafio é o de compor forças de sustentação que prescindam da atual configuração do presidencialismo de coalizão. Tudo envolve firmar uma estratégia de desenvolvimento mais madura, e contando com a força social, consciência nacional e o papel do Estado nacional para o Brasil avançar em seu desenvolvimento soberano.

Isso torna imprescindível disputar na sociedade uma narrativa crítica e autocrítica sobre o legado de 14 anos de governo, cujas realizações, sem dúvida, estão na memória da maioria do povo brasileiro, mas cujos erros, limites e insuficiências tornaram possível o golpe.

Portanto, abre-se um período de reformulação programática para a esquerda, reconfiguração da própria organização política da esquerda brasileira, que darão ensejo a nova geração de propostas e nova geração de lideranças.

Penso num bloco de afinidade progressista com as bandeiras da esquerda, uma formação política com programa e estratégia definida, com a forma de frente política em torno da defesa dos interesses nacionais, populares e democráticos – presente em vários setores da sociedade civil e em várias frações de partidos. Teria como núcleo a esquerda política e social e seria integrada também pelas numerosas forças e personalidades intelectuais, do mundo jurídico e da cultura nacional de matiz progressista. Uma aliança pelo Brasil, pelas conquistas populares e pela democracia.

Ampliar o leque político e social das alianças é decisivo, não bastará apenas a esquerda para a retomada do projeto nacional de desenvolvimento. Os anseios de centro-esquerda progressista estão presentes na sociedade mas sem representação política partidária definida e a esquerda precisa se apresentar nessa disputa.

Fora disso, vingarão as forças conservadoras já estruturadas ou as forças da negação da política, provavelmente com correntes de opinião francamente fascistas no espectro partidário.

Dependendo dos desdobramentos da reforma política, essa formação poderia assumir papel de uma Federação Eleitoral, compreendendo a autonomia das organizações integrantes, mas com regras definidas para escolher representantes eleitorais unitariamente. Um tipo de Frente Amplo do Uruguai, mas à brasileira.

O fundamental é a noção estratégica de um bloco político-social com expressão política. No Brasil, um só partido, por mais forte que seja, não dá conta das grandes e complexas tarefas da construção de um projeto nacional de desenvolvimento com atributos progressistas. Por isso, a reconfiguração política da esquerda brasileira precisará encontrar sucedâneos para o modelo que se constituiu em torno de um partido-âncora, gerador de hegemonismos que dividem e não somam.

Concretamente, fora da luta política de classes como forma mais elevada da consciência social, e fora de uma ampla união de forças para a retomada do projeto nacional soberano, democrático e popular, não há saídas. Igualmente, sem representar o anseio da grande maioria da classe trabalhadora e do povo nesse projeto, não haveria necessidade de uma esquerda classista e antagonista. Isso é o que o Brasil precisa: uma esquerda protagonista, a sua unidade como a bandeira da esperança, uma estratégia madura para levar o Brasil a novo patamar civilizatório.