Theresa May toma posse e nomeia porta-voz do Brexit como chanceler

Theresa May é tomou posse como primeira-ministra britânica na quarta-feira (13). É a segunda mulher a ocupar o cargo, depois de Margareth Thatcher, também conservadora. Sob sua administração, terá de negociar a saída do Reino Unido da União Europeia, e tentará minimizar o impacto disso na economia do país. Além disso, precisará definir qual será o papel do Reino Unido, assim como tentar implementar seu projeto de governo, que ela diz ser de combate à "ardente injustiça" na sociedade britânica.

Theresa recebe as bençãos da rainha Elizabeth II

Segundo pessoas ligadas à Theresa, ela é uma mulher "séria e eficiente". São poucos adjetivos dados à ela, visto que teve apenas 20 dias para se destacar dentro do Partido Conservador, disputar e ganhar o cargo que era de David cameron, demissionário após a derrota no Brexit.

Segundo seu discurso, David Cameron “estabilizou a economia, mas seu grande legado está na justiça social. Governarei com esse mesmo espírito”, sinalizou.

Ela dirigiu-se aos trabalhadores, prometendo o que sempre o Partido ao qual é filiada fez em contrário: "Sei que vocês trabalham o dia inteiro, sei que fazem tudo o que podem e que a vida às vezes pode ser uma luta árdua. O Governo que dirigirei não será guiado pelos interesses de alguns poucos privilegiados, mas pelos interesses de vocês. Faremos tudo o que for possível para lhes proporcionar um maior controle sobre as suas próprias vidas", afirmou.

O referendo afastou do comando do partido as figuras que eram contrárias à saída britânica, e ela terá uma margem de manobra dentro do que os analistas britânicos chamam de vazio de liderança entre os Tories. Ela prometeu se cercar de pessoas com perfis que refletem todas as facções do partido e colocar mais mulheres em postos importantes.

Para as Relações Exteriores, por exemplo, ela escolheu Boris Johnson, o ex-prefeito de Londres que fez campanha intensa a favor do Brexit. Johnson era apontado como provável primeiro ministro após a vitória de sua campanha no referendo, mas surpreendeu ao abrir mão da disputa. Enquanto chanceler, o ex-prefeito não terá qualquer competência sobre a saída do Reino Unido da União Europeia.

O fato de que May defendia a permanência na União Europeia, embora o tenha feito discretamente, a deixa desde já sob a vigilância estrita dos eurocéticos mais convictos. A primeira-ministra já deixou claro que não existe volta para trás, que “Brexit significa Brexit”. Mas qualquer concessão, especialmente no terreno do controle das fronteiras, fará ressurgirem as tensões em um partido cujas feridas continuam abertas, mesmo que se procure exibir uma imagem de unidade nestes momentos emergenciais.

Durante anos, dentro dos Tories, foi considerada uma das mais duras políticas britânicas, mas não pode ser comparada com sua antecessora Margaret Thatcher. Ela é mais conhecida por sua capacidade de gestão que por uma visão reformista do Partido.

A nova primeira-ministra do Reino Unido era, até esta semana, a pessoa que mais tempo ocupou a pasta do Interior no último meio século, considerada um dos cargos mais difíceis do governo.

Ela já afirmou que um dos seus projetos é reduzir a imigração. Nunca definiu uma meta numérica, como fez David Cameron (100.000 por ano). Mas tentou cumpri-la – com estrondoso fracasso –. De fato, a ex-titular do Interior se destacou por sua dura política migratória. Reformou a lei para impedir os cidadãos britânicos de levarem seus cônjuges e filhos estrangeiros ao Reino Unido se sua renda for inferior a 20.000 euros anuais.

Além disso, promoveu uma campanha polêmica – com o lema “Go home” [Volte para casa], estampado, por exemplo, em centenas de vans por todo o país – em que oferecia pagar os custos de viagem dos imigrantes que quisessem retornar a seus lugares de origem.

Theresa votou a favor da legalização do casamento igualitário – “se duas pessoas se amam deveriam poder se casar”, disse –. Entretanto, anos antes tinha votado contra a revogação de uma lei que impedia tratar de temas de homossexualidade nas escolas.

Há pouco menos de vinte anos, Theresa foi contra a adoção de um salário mínimo nacional para os trabalhadores. Depois, prometeu dar aos empregados um lugar nos Conselhos de Administração das empresas e um voto vinculante nos salários dos executivos. O que não foi concretizado.

Negociações com Angela Merkel

A transição do Reino Unido para fora da UE será feita por duas mulheres, Theresa e Angela Merkel, a chanceler da Alemanha. As conversas serão lideradas pelos membros dos Estados, e não pela Comissão Europeia, e as duas terão papel de destaque, visto que é a Alemanha que de fato comanda os destinos da União Europeia.

A única coisa que Merkel disse sobre sua colega britânica é que seu primeiro dever será "esclarecer que tipo de relação futura o Reino Unido deseja construir com a União Europeia". Segundo a alemã, as medidas do Artigo 50 (que rege a saída de membros da UE) devem ser colocadas logo em prática, dando início de uma vez ao prazo de dois anos para a saída – só depois disso as negociações poderiam efetivamente começar.

Esse deve ser o primeiro conflito entre as duas, já que May quer iniciar a negociação antes de colocar em prática o Artigo 50.

"Partido sórdido"

Durante 17 anos, Theresa foi uma das poucas mulheres nos cargos de comando dos Tories eficou conhecida por sua dureza com sues correligionários.

"Você sabe do que as pessoas nos chamam: 'o partido sórdido'", afirmou a ativista em 2002, durante uma conferência.

Mesmo assim, os conservadores acham "bom" o seu trabalho como ministra. No entanto isso não reverteu em apoio do grande público. Agora é que começará o verdadeiro teste para ela, e já começa com críticas por parte da parcela mais direitista, que a acusa por não ter cumprido a promessa de manter o número de imigrantes que entram no país abaixo de 100 mil por ano.

A ministra ainda foi criticada – pela esquerda – por propor que o Reino Unido deixe de fazer parte da Convenção Europeia dos Direitos Humanos.