Penélope Toledo: Bangu dos operários X Bangu dos bolsonaros

O Bangu Atlético Clube, conhecido por sua origem popular, sediou a convenção que oficializou a candidatura à Prefeitura do Rio de Janeiro de Flávio Bolsonaro (PSC-RJ), filho de Jair Bolsonaro, conhecidos por suas posições conservadoras.

Por Penélope Toledo*

Torcida antifascista do Bangu fez protesto contra o clube ter sido usado para início de campanha de Bolsonaros no RJ

De um lado, o primeiro clube do Brasil a ter jogadores negros, de outro, gente que fez declarações racistas. De um lado, um clube cujos primeiros atletas eram os operários, de outro, gente cujo patrimônio se multiplica. De um lado, um clube com torcedores como Jorge Amado e Leonel Brizola, de outro, gente homofóbica e machista.

E não para por aí. De um lado, o clube cujo estádio tem o nome “proletário” (Proletário de Moça Bonita), de outro, gente que acha que mulher tem que ter salário inferior. De um lado, um clube cujo estádio foi inaugurado pelo líder comunista Luiz Carlos Prestes, de outro, gente que homenageia torturador.

Muito além do Bangu…

O caso do Bangu é emblemático, pois representa problemas que assolam diversas agremiações do país: o desrespeito à sua história e a contradição entre sua origem e o que se tornou hoje.

Times de origem popular abandonaram o povo e elitizaram as suas arquibancadas, com ingressos caros e inacessíveis a muitos/as. Aqueles conhecidos pela força de sua torcida não hesitam em esvaziar-lhe o protagonismo e substituí-la pelo/a torcedor/a “padrão Fifa”. As figuras lúdicas e lendárias que povoavam as gerais sumiram e hoje os clubes ostentam orgulhosos as suas arenas frias.

O próprio futebol mudou. Cada vez mais concentrado nos “grandes” e no eixo Rio-São Paulo-Minas Gerais-Rio Grande do Sul, dá pouco espaço para alguns clubes tracionais, como o Bangu, de 1904, se estruturarem financeiramente e formarem equipes competitivas.

Com direções corruptas nos clubes e federações, fórmulas de campeonato que dificultam que os “pequenos” cheguem, cronogramas massacrantes de jogos e viagens (que alguns fazem em condições precárias), calendários esportivos que não preenchem o ano inteiro (de quem não está nas divisões principais), visibilidade midiática atrelada a tamanho da torcida, cotas de televisão que perpetuam as desigualdades de investimento etc, o futebol também tem deixado de ser o “futebol dos operários”, para se tornar o “futebol dos bolsonaros”.

Muito além do futebol…

Mas como não poderia deixar de ser, o povo resiste! Torcedores banguenses, liderados pelo movimento B-16 Bangu Antifascista, lançaram o Manifesto Bangu Contra Bolsonaro, demonstrando total repúdio ao que ele representa na política e no pensamento do nosso país.

Também fizeram um protesto em frente ao clube, no dia 21 de julho, por onde passaram cerca de 150 pessoas, além de tantas outras que declararam apoio publicamente. Neste grupo não estão só banguenses e sim torcedores dos mais diversos clubes.

É um claro recado de que não importa para quem se torce, é momento de chutar a rivalidade para escanteio e lutar lado a lado contra o futebol – e o país! – dos bolsonaros. E nós não vamos entregar este jogo!