Apologistas do terror

"Está pessoalmente preparada para lançar um ataque nuclear que mate cem mil homens, mulheres e crianças inocentes?" À pergunta dum deputado, no debate parlamentar sobre o programa de submarinos nucleares britânicos Trident, a recém-empossada primeira-ministra inglesa e defensora da permanência na UE, Theresa May, respondeu com um categórico "Sim". Não é a primeira vez que o genocídio é defendido abertamente.

Jorge Cadima, no Jornal Avante

Hiroshima

A 12 de maio de 1996, no programa 60 Minutes da CBS perguntaram à então ministra dos Negócios Estrangeiros dos EUA, Madeleine Albright, a propósito das sanções que, por interposta ONU, os EUA aplicavam ao Iraque: "Ouvimos dizer que meio milhão de crianças já morreram. São mais crianças mortas do que em Hiroxima. […] Será que vale a pena este preço?". A MNE do Presidente Clinton respondeu: "É uma opção muito difícil, mas consideramos que vale a pena este preço."

Madeleine Albright discursou na semana passada na Convenção do Partido Democrata que consagrou Hillary Clinton como candidata à Presidência dos EUA. É natural. A "Rainha do Caos" tem responsabilidades diretas na destruição de países como a Líbia e a Síria e nas centenas de milhares de mortos resultantes. Na Internet pode ver-se o vídeo em que Clinton, no dia da linchagem de Kadafi, exulta perante uma entrevistadora e, parafraseando Júlio César, proclama "chegámos, vimos e ele morreu", após o que se lança em sonoras gargalhadas. Como dizia John Lennon, na sua canção Working Class Hero: "continuam a dizer-te que ainda há lugares no topo, mas primeiro tens de aprender a sorrir enquanto matas".

A degradação moral dos dirigentes políticos das grandes potências imperialistas, já patente nas mentiras belicistas de Bush, Blair, Barroso, Aznar, Sarkozy, Hollande, Cameron, Obama e tantos outros, não é exclusivo de um sexo, duma cor da pele, duma religião ou duma nacionalidade. A história da afirmação do domínio de classe, e em particular da afirmação do domínio planetário do capitalismo na sua fase imperialista, é um cortejo de crimes. E o sistema premeia os seus crimes. Durão Barroso ganhou o tacho na UE por ter apadrinhado, nas Lajes, a invasão do Iraque em 2003. E ganhou o tacho na Goldman Sachs (cada vez mais o patrão da UE) por ter imposto aos povos da Europa a pobreza e a vassalagem à grande finança. Mas a falta de pudor e os crimes, aliados ao empobrecimento de grandes massas para salvar o capital financeiro da crise do seu sistema, estão a estreitar rapidamente a base de apoio social do sistema. Multiplicam-se os sinais da perda de controlo ideológico (veja-se os referendos na UE).

A vaga de ataques terroristas que hoje adubam o terreno da imposição de estados de emergência, de estados policiais ou até de guerras em grande escala, indicia a possibilidade de que estejam em marcha planos subversivos geridos a partir dos próprios Estados imperialistas. Os alegados autores têm frequentemente ligações aos serviços secretos, policiais ou às guerras sujas do imperialismo. É estranho que o gabinete anti-terrorismo da PJ francesa tenha intimado a Câmara de Nice a destruir as suas gravações de video-vigilância da noite dos atentados. Há poucos dias, um tribunal canadense sentenciou que a polícia daquele país manipulou um casal de tóxico-dependentes "convertidos ao Islã" para cometer atos terroristas "fabricados pela polícia". Quem ache a ideia extravagante pode ver na Internet o documentário da BBC sobre as redes Gladio (1992), documentando profusamente o papel da CIA-Otan e outros serviços secretos nos ataques terroristas que ensanguentaram a Itália e a Bélgica nos décadas que acompanharam a vitória do "neo-liberalismo".

Quem proclama publicamente o seu "direito" a matar centenas de milhares de crianças e de inocentes, não se achará também no "direito" de tentar salvar o seu sistema de poder e riqueza pela via da provocação e do terror?