Guadalupe Carniel: Guerra Fria
Os olhos do mundo estão voltados ao Rio. A frase é clichê, mas é real. Mesmo com todos os problemas, os Jogos vão acontecer. Mas o que preocupa é o tal do maior escândalo de doping da história. Até alguns dias atrás a Rússia estava banida das Olimpíadas do Rio-16. Agora, 339 atletas da equipe, o que equivale a um terço, não estarão na disputa dos Jogos.
Publicado 05/08/2016 15:44
Não haverá nenhum participante do atletismo, já que a CAS (Corte de Arbitragem do Esporte) rejeitou a apelação e decidiu manter a equipe inteira fora do evento.
Ielena Isinbáieva também foi punida pela decisão da IAAF que excluiu toda a equipe de atletismo do país, independente de terem sido pegos no doping ou não. Assim, a única esportista da equipe de atletismo que poderá se apresentar nos jogos sob a bandeira russa é a saltadora a distância Dária Klítchina que há três anos vive e treina nos EUA.
No dia 17 de julho, o COI recebeu uma carta assinada pela Usada (Agência Norte-Americana Antidoping) e comitês de outros nove países (Alemanha, Espanha, França, Noruega, Japão, Dinamarca, Nova Zelândia, Canadá e Suíça) pedindo que a Rússia fosse banida das Olimpíadas e Paraolimpíadas. Tudo isso foi baseado nos apontamentos do relatório McLaren feito por uma comissão independente, que acusava a Rússia de doping nos jogos Olímpicos de inverno de Sôtchi e em outras competições. As conclusões deveriam permanecer secretas até o dia 18, quando seriam reveladas.
Antes disso, o ex-diretor do laboratório russo de antidopagem, Grigóri Rodchenkov, em entrevista ao New York Times declarou que o governo patrocinava o esquema e o Wada concluiu que as alegações dele eram verdadeiras e que a Rússia deveria ser banida de todas as competições. Soma-se a isso, o casal Iúlia (ex-atleta dos 800 m rasos) e Vitáli Stepanov delataram esquemas de doping envolvendo o governo que foi divulgado num documentário alemão (Saiba mais sobre o caso sob o ponto de vista russo aqui – Nota da Redação).
Tivemos também o caso da tenista Maria Sharapova que usou uma substância que foi proibida apenas no dia 1º de janeiro e ela foi pega no doping no dia 26 do mesmo mês. A CAS só divulgará o caso dela dia 19 de setembro. Por enquanto, a tenista está suspensa por dois anos.
O COI não chegou a um consenso. Thomas Bach parece ter se lembrado de que já foi atleta (esgrimista alemão que não pode participar nas Olimpíadas de Moscou), quer que não punam os atletas considerados limpos. Delegou a decisão às federações de cada esporte e que os atletas russos devem ser considerados infratores em potencial e testados ao menos três vezes rigorosamente.
Desde 2015 o controle o antidoping russo tem sido feito pela UKAD (uma agência britânica) e o governo se comprometeu que o programa passará por uma reestruturação em reunião feita com o COI. Para a Asoif (Associação das Federações Internacionais de Esportes Olímpicos) os atletas devem ser julgados individualmente e não punir o país.
Mas o que muito tem se questionado na Rússia é como estão sendo feitas essas investigações já que não vemos nada de concreto, são apenas depoimentos e muito especula-se que é uma manobra política.
As Olimpíadas surgiram como forma de cessar conflitos e culto religioso, além de carregados do chamado espírito do olimpismo que resgata o caráter, a união. Agora eles viraram motivo de guerra e disputa entre países segregando-os. Como no caso dos EUA, que boicotaram os jogos de Moscou em 1980 e que depois sofreram o mesmo nos jogos de Los Angeles.
Sempre houveram casos de doping, desde os tempos antigos quando os atletas se dopavam com ópio, até os casos de conhaque com estricnina chegando à eritropoietina nos tempos mais modernos para melhor oxigenação. Nunca tivemos jogos limpos, já que a tecnologia para detectar sempre está um passo atrás. Não acontece em apenas um país ou determinada modalidade. Eles sempre acabam acobertados ou esquecidos para não manchar o tal do espírito olímpico.
Para os russos, a coisa vai além: o problema é como fazer para apagar essa mancha na história do esporte russo, já que agora o país que era visto como uma potência está sendo visto com desconfiança por todos. Agora a guerra é pra recuperar a sua imagem e não sofrer mais retaliações.