Celebrando 90 vitórias: Fidel, a chama com que sempre nos iluminamos
Fidel, a estrela mais vermelha do mapa latino-americano e caribenho, essa enorme figura que soube fazer da Revolução uma possibilidade não distante e ao mesmo tempo conseguiu transmitir esperanças para que outros e outras em qualquer rincão do mundo pudessem alçar-se contra as injustiças.
Por Carlos Aznárez*
Publicado 13/08/2016 12:44

Esse gigantesco coração sensível no qual tiveram abrigo todas as tristezas dos mais necessitados e também as alegrias pelas pequenas e grandes vitórias conquistadas. Em Fidel, digo, e em sua forma de gerar consciência, formação, coragem e toda a audácia necessária para conquistar o poder e não servir-se do mesmo, estão concentrados todos os anseios dos que jamais haverão de se dar por vencidos na luta por um mundo diferente. Socialista, sim, sem mais aditamentos, no dizer e fazer do Comandante.
Justamente agora, que a situação internacional não parece mais favorável para os povos e há dúvidas sobre o futuro que a Humanidade espera, vale a pena buscar respostas à existência desta inesgotável referência do campo revolucionário que continua dando lições de sabedoria e humildade.
Quantos Fideis há neste Fidel que nestes dias cumpre 90 anos de muito vivida existência? Certamente que muitos. Tantos que a memória não alcança para evocá-lo. Há um Fidel – menos conhecido – que desde muito jovem se pôs em marcha para, nos claustros universitários, começar um intenso caminho de agitação que o levou poucos anos depois a militar ativamente – fazendo honra a um internacionalismo ao qual logo abraçaria com paixão – contra o ditador dominicano Leónidas Trujillo.
Há outro Fidel que se deu conta em seguida de que todas as teorias do mundo não são suficientes se não se exerce uma prática audaz e inteligente contra o autoritarismo, e junto com um punhado de valentes assaltou o Moncada, abrindo assim um caminho que não se deteria mais até a tomada do poder, uma meta imprescindível se se quer fazer uma Revolução com maiúsculas. Porém, o que dizer desse Fidel, que, com Raúl, o Che e outros tantos patriotas, desembarcou do Granma, e quando tudo parecia vir abaixo, entre cadáveres de seus melhores irmãos e as balas do inimigo, contou os fuzis e se repetiu várias vezes, como para que o ouvissem os esbirros da ditadura batistiana, que com essa dezena de homens que restavam em pé ganhariam a batalha.
Do Fidel de Sierra Maestra haveria muito para contar. Ele mesmo o fez, com seu estilo loquaz e sumamente descritivo, em dois livros de leitura imprescindível para entender de que se tratou essa epopeia: “A contraofensiva estratégica” e “A vitória estratégica”.
Ali, naquelas montanhas vitoriosas, apareceu com toda clareza o Fidel combatente, o estrategista militar capaz de converter em triunfo massacrante o que minutos antes ia a caminho de converter-se em derrota, o Fidel companheiro de seus companheiros, severo quando se tratava de fazer com que se cumpram suas ordens, sabedor de qualquer dúvida num combate tão desigual como o que travavam podia fazer capotar o projeto revolucionário.
Porém também soubemos nesses poucos anos de batalha direta contra a soldadesca de Batista desse Fidel que respeitava a vida de seus inimigos uma vez que eram capturados em combate, marcando dessa forma um território de humanidade, que em várias ocasiões provocou deserções massivas entre os fardados do regime, e gerou as bases para que poucos milhares de rebeldes vencessem a um exército regular e bem equipado com cem mil soldados, que contavam com tanques, aviões bombardeiros e a ajuda internacional dos impérios ianque e inglês.
Depois, quando os barbudos felizmente marcharam vitoriosos para Havana, naqueles dias memoráveis de 59, começou a desenvolver-se a vida de um Fidel que terminou assombrando ao mundo.
Revolucionário até a medula, libertou seu povo da opressão e da cultura gringa que o asfixiava, expropriou e nacionalizou tudo o que antes era de quatro magnatas subordinados à máfia norte-americana e exerceu o internacionalismo com a mesma potência que antes havia desenvolvido para derrotar ao tirano.
Ombro a ombro com o Che, não duvidou em empreender uma prolongada marcha para conquistar a por enquanto pendente segunda Independência latino-americana. Venceu o Apartheid sul-africano, ajudou a libertar Angola, abraçou Salvador Allende e apertou os punhos de raiva, como poucos, quando se inteirou de que seu irmão Guevara caía em combate em Ñancahuazú.
Quantos rebeldes do continente se sentem enormemente agradecidos pelo que Cuba fez por eles, quantos lutadores pelo socialismo não poderiam gestar múltiplas façanhas em seus países sem a decisão solidária e comprometida de Fidel e seus companheiros? A lista é extensa e através dela Cuba e sua Revolução foram escrevendo páginas de dignidade impossíveis de esquecer.
Nesses anos e nos vindouros, Fidel teve que multiplicar-se para que a Ilha não se afundasse após a queda do bloco socialista, para intervir com clarividência em temas de dívida externa, anunciando antes que ninguém que a mesma era impagável por ser ilegítima. Também propôs soluções para cuidar e defender o meio ambiente, ou encarar gigantescas iniciativas em temas de educação e saúde para seu povo, que logo foram e são derivadas de maneira solidária para o resto do mundo.
No entanto, a mãe de todas as batalhas foi a que travou Fidel, abraçado com seu povo, contra o criminal bloqueio imperialista.
Meio século de obrigadas carências, que foram derrotadas a ponta de digna coragem e a convicção de que às revoluções verdadeiras se lhes opõem milhares de obstáculos. Para que semelhante agressão não possa sair airosa, Fidel repetiu sempre, o remédio á ter consciência revolucionária e convicção de que se trava uma batalha justa, forjar uma imensa unidade dos humildes e sacrificar-se até às lágrimas.
“Depois de Deus, Fidel”, disse emocionado um agradecido cidadão do Haiti, ao defender as missões médicas e alfabetizadoras que o governo cubano derramou por todo o mundo, chegando ali onde ninguém se atrevia. Isso é o que nestes dias todos os que agradecemos sua necessária vigência temos a obrigação de recordar quando nomeamos a Fidel. Nunca, porém nunca, nos faltou.
Dizemos isso a partir da constatação de saber em que tipo de mundo vivemos, onde a traição, a corruptela, o transfúgio e a claudicação se converteram em moeda corrente. Frente a essas deformações, Fidel, Cuba, seu povo, a velha guarda e as jovens gerações revolucionárias, sempre mostraram que se pode. Que com vontade política e consciência revolucionária não há inimigo invencível.
Agora, que o Comandante, esse mesmo ao qual seu povo carinhosamente chama de “el caballo”, segue galopando com tantas ânsias de futuro, agora que esse inimigo ao qual lhe suportou o olhar, apesar de tê-lo a apenas 90 milhas, simula aproximar-se e “flexibilizar relações” para continuar apertando a corda de formas diversas, agora que já não temos a Hugo Chávez ombro a ombro com Fidel, como amigo, filho, irmão, companheiro, agora que o Império se lança à ofensiva no que segue considerando seu “pátio traseiro” e Cuba se nos aparece, como sempre, intacta, inacessível por seus inimigos que são os nossos, agora, quando as reflexões de Fidel em defesa da vida contra a morte são mais necessárias, é momento de deter a marcha por um instante e reconhecer neste homem excepcional todos os seus méritos.
Dizer, sem rubores de nenhum tipo, que o queremos por todo o feito, e por tudo o que certamente continuará fazendo. Não é ridículo, nem obediência assinalar isto, não somos nem uma coisa nem outra e sabemos de ambos por viver em países onde são praticados com desmesura, só se trata de fazer justiça com alguém a quem, desde que nos apareceu a consciência, sempre tivemos de nosso lado.
Por isso, quando as dificuldades nos intimidem, quando creiamos que estamos ficando sem forças, quando às vezes nos faltem respostas, quando a confusão reinante nos faça duvidar sobre quem realmente é o inimigo, nesses momentos de obscurantismo e desassossego, voltamos a Fidel, a suas ideias, a sua ética, a sua audácia, a sua coragem, a sua lógica revolucionária e montemo-nos novamente na maravilhosa aventura de querer tomar os céus por assalto.
Por muitos anos mais, Fidel. Para que nossos inimigos continuem se enfurecendo, e os humildes e a esquerda [como diria o Subcomandante Marcos] festejem com muita garra tua nobre e vital existência.