Operação para salvar Cunha está em pleno andamento na Câmara

As tratativas para salvar da cassação o deputado afastado do mandato Eduardo Cunha (PMDB-RJ) seguem firmes entre o Palácio do Planalto e a Câmara. Verdadeira moeda de troca para pagar o golpe contra a presidenta eleita Dilma Rousseff, os aliados de Temer fazem esforço para livrar Cunha da perda de mandato.  

Conselho de Ética pode votar processo de Eduardo Cunha nesta tarde

O peemedebista é acusado de quebra do decoro parlamentar por ter mentido na CPI da Petrobras, negando que tem conta no exterior. Cunha também é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por crimes como lavagem de dinheiro, corrupção passiva e evasão fiscal.

A operação para salvar Cunha demonstra claramente a hipocrisia de quem gritou “Fora Dilma” para supostamente livrar o Brasil da corrupção. Querem “rifar” uma presidenta que sequer é investigada e, contraditoriamente, salvar um deputado contra quem pesam provas contundentes do cometimento de vários crimes.

Apesar das negativas de Cunha e de seus aliados, fica mais forte e evidente a cada dia a pressão sobre o Planalto para evitar a cassação. Segundo a imprensa, Eduardo Cunha já teria avisado ao presidente golpista Michel Temer, por meio de interlocutores mais próximos, que não aceitará ser abandonado.

O clima tenso no governo se agrava com a iminência da divulgação de detalhes sobre a delação de executivos da Odebrecht, cujos alvos são figurões do governo golpista, incluindo o próprio Temer, além de Eliseu Padilha, atual chefe da Casa Civil, e José Serra, ministro das Relações Exteriores.

O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), em artigo publicado no site Brasil 247, dá o tom do clima político que ronda Brasília neste momento. “Sem dúvidas, o pavor maior é provocado pelo dilema de o que fazer com Eduardo Cunha. Temer, Padilha, Geddel e dezenas, ou talvez centenas, de parlamentares sabem do potencial explosivo de sua ira. À medida em que se aproxima o fim de agosto, os receios de traições se ampliam.”

Rede de interesses

O processo de cassação de Cunha está pronto para ser votado no plenário da Câmara desde meados de julho, depois de ter passado pelo Conselho de Ética e pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Desde que o atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumiu o cargo, ele vem sendo cobrado pela oposição para marcar a data da votação do processo. Entretanto, somente na semana passada ele anunciou que pautará o desfecho do caso Cunha para 12 de setembro.

Rodrigo Maia não era o candidato em quem Eduardo Cunha apostava suas fichas para assumir a Presidência da Câmara e livrá-lo do processo por quebra de decoro parlamentar. Seu escolhido e aliado era Rogério Rosso (PSD-DF). Maia ganhou e, de certa forma, frustrou os planos de Cunha. Ao menos em parte.

Embora Rodrigo Maia negue estar sofrendo pressões e desminta fazer parte da força-tarefa pró-Cunha, o fato de ter marcado a votação para uma segunda-feira do mês de setembro é sinal de que a operação “salva-Cunha” está em pleno andamento na Câmara.

Isso porque segunda-feira é um dia em que a presença de parlamentares na Casa costuma ser baixa. Além disso, nesta data, a maioria dos deputados – mesmo aqueles que não são candidatos – estará envolvida em campanhas municipais, que estarão na reta final a menos de três semanas do pleito.

Tudo faz parte de um planejamento maior. O deputado Paulo Pimenta afirma que Temer não aceita salvar seu comparsa antes de consumar o golpe, que é a votação no impeachment no Senado, marcada para o fim de agosto. Já os interlocutores de Cunha, segundo o petista, são taxativos: “Não ousem nos trair depois de contarem conosco para afastar Dilma”.

Pimenta desvenda ainda a intrincada rede de interesses que envolve o desfecho de todo esse golpe contra a democracia e contra a presidenta legitimamente eleita. “Existe o fator Odebrecht. Essa delação vai sacudir os alicerces do aparato golpista e deverá incentivar outras delações que não deixarão ‘pedra sobre pedra’. Se não é possível evitá-la, que seja adiada. Contam com a inestimável participação de Moro e Gilmar Mendes e sabem que se der tudo errado, será possível, ainda, eleger um presidente da República, no Congresso, já em janeiro de 2017. Para tanto, a delação não poderá ser homologada antes de novembro”, alerta Pimenta.