Palmeiras Livre: contra a homofobia, machismo e racismo no futebol

“Não vamos aceitar nenhum direito a menos!”, garante Thaís Nozue, integrante do coletivo Palmeiras Livre, que luta contra a homofobia, transfobia, machismo e racismo no futebol. Na entrevista a seguir, para a jornalista Penélope Toledo, do Arquibancada, Thaís fala sobe como estes problemas se manifestam no futebol, o surgimento do Palmeiras Livre, suas bandeiras de luta e ações desenvolvidas com outros coletivos.

Palmeiras Livre

Conta, também, sobre as ameaças e hostilidades sofridas, as propostas, planos e autocríticas do coletivo, avanços nas temáticas, dificuldades para pautar estes debates no futebol, importância do posicionamento do clube e dos jogadores e homofobia, transfobia, machismo e racismo na sociedade, dentre outros.

Confira:

O coletivo Palmeiras Livre se identifica como sendo contra a homofobia, transfobia, machismo e racismo no futebol. De que forma estes problemas de manifestam no esporte?

Thaís Nozue – Os preconceitos e o racismo se manifestam dentro de campo e nas torcidas. Hoje está na moda o grito de “bicha” na cobrança de escanteio. Infelizmente está presente inclusive em jogos de série A, B,C… A mídia esportiva também corrobora essas atitudes, quando reforça estereótipos de gênero ou se omite diante desses casos.

Como surgiu o coletivo?

Surgiu em 2013, depois do surgimento da Galo Queer. A Ligy, que não faz mais parte, criou a página e fez um chamamento público para colaborações, me candidatei e estou aqui desde então. Somos hoje em 5 pessoas.

Além de falar sobre o Palmeiras, quais outras ações o coletivo desenvolve?

Participamos de reuniões com outros coletivos de torcidas progressistas e mídia independente que lutam contra o futebol moderno, contra o jogo às 10 da noite e contra o monopólio da Globo.

Recentemente, a página do Palmeiras Livre foi alvo de ameaças e hostilidades. Como é a relação com as torcidas, nos estádios e fora deles?

As torcidas “oficiais”, organizadas, não gostam da gente. Somos hostilizados. Salvo as torcidas e coletivos progressistas de outros times, nenhuma nos recebe bem.

Quais são as propostas de vocês para o combate à homofobia, transfobia, machismo e racismo no futebol?

Estamos nos mobilizando para sair da internet, mas diante das ameaças, recuamos um pouco. Mas temos um projeto de blog e canal no YouTube, além de ações diretas de prevenção e combate ao HIV.

Houve avanços neste sentido após o surgimento dos coletivos e torcidas segmentados?

Há uma crítica interna que diz que “pregamos para convertidos”, ou seja, nossas ações se voltam para pessoas que sentiam necessidade de um espaço para torcer sem preconceitos. E é muito válido que sejamos um espaço de confiança. Contudo, ainda há um caminho muito árduo para adentrar, visto que os casos de homofobia e transfobia estão cada vez mais velados. O que podemos observar é a eficácia do movimento feminista sobre atitudes machistas da mídia e de clubes, que insistem em ignorar essas demandas.

Quais são as maiores dificuldades para pautar estes debates no futebol?

O futebol é um terreno espinhoso, é extremamente conservador e violento. As pessoas se usam desse espaço para extravasar seus demônios e mostrar o que têm de pior. Um verdadeiro retrato da nossa sociedade é a torcida de um time de futebol. Esses são os maiores desafios.

Qual é a importância dos jogadores se posicionarem contra homofobia, transfobia, machismo e racismo?

Seria mais um braço nessa luta contra esses preconceitos e o racismo. Precisamos hoje de um posicionamento do clube e dos jogadores, para que a transformação e o engajamento ocorram.

E na sociedade, como você vê o combate a estas formas de opressão?

Há muitos movimentos organizados que lutam contra todas as formas de opressão e o ideal é que haja mais políticas públicas para atender às nossas demandas. Devemos partir, inclusive, para a reforma política, já que este Congresso Nacional é um dos mais conservadores dos últimos tempos. O Brasil é conservador, tivemos alguns avanços e não vamos aceitar nenhum direito a menos!