Angela Merkel é hostilizada pela direita xenófoba em Dresde

Esta segunda-feira (3) marca o 26º ano da anexação da República Democrática Alemã pela então Alemanha Ocidental, a República Federal (cujo nome evidentemente foi mantido). A chanceler alemã, Angela Merkel foi comemorar a data em Dresde, cidade que pertencia à Alemanha Democrática e que foi um dos alvos do ocidente no desmantelamento econômico-industrial do país.

Partidários do Pegida protestam em Dresde contra Angela Merkel

A cidade hoje é um reduto da direita xenófoba, reunida em torno de um movimento contra a imigração que se manifesta pelas ruas todas as segundas-feiras. Angela ouviu de milhares de pessoas palavras como "traidora do povo" e demandas como "Angela tem de sair".

Dresde é palco de manifestações nazistas nos dias 13, 14 e 15 de fevereiro em todos os anos. É a data em que foi bombardeada por americanos e britânicos e praticamente reduzida a cinzas na Segunda Guerra Mundial, em 1945. A cidade virou um ponto de encontro de um grupo que se autointitula Pegida, sigla para "Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente".

A chanceler foi vaiada e xingada durante sua chegada e saída, em que estava acompanhada do presidente Joachim Gauck e do ministro do Interior Thomas de Maizière. O ato foi realizado na Frauenkirche – igreja símbolo da cidade e reconstruída com alarde após a reunificação.

Após o ato na igreja, Angela foi para uma das mais famosas casas de ópera do mundo, a Semperoper, onde ouviu mais vaias e gritos de protesto. As vaias foram ainda mais intensas quando Norbert Lammert, presidente do Parlamento alemão, discursou.

Do mesmo partido da chanceler, o presidente do Bundestag teve o discurso transmitido em um telão para quem estava do lado de fora da ópera. As vaias foram mais intensas ainda quando Lammert disse que aqueles que hostilizavam "não lembravam das condições de Dresde" antes da anexação.

De acordo com relatos no Facebook, populares vaiavam a gritavam: "Tínhamos emprego", "Vocês nos roubaram", "Fora Merkel". A cidade estava repleta de policiais, que procuraram distanciar o máximo os manifestantes.

Na última semana de setembro a cidade foi palco de duas ações terroristas, com a explosão de duas bombas caseiras – uma em uma mesquita, e outra em um centro de conferência internacional. Os ataques partiram de xenófobos, segundo as autoridades.

A economia do que era a Alemanha Oriental ainda não é nem um pouco semelhante ao lado Ocidental, com elevada taxa de desemprego e de pobreza, algo que a população da área atribui ao capitalismo, que anexou, e ao socialismo, que "abandonou" o país à rapina ocidental. Assim, tornou-se terreno fértil para a direita xenófoba e racista.