Senadora Vanessa: aversão à política saiu vitoriosa nas eleições
O grande vitorioso desse processo eleitoral não foi nenhum partido político ou candidato. Foi a aversão geral pela política, expressa nas abstenções, nos votos em branco e nulos e nos candidatos que, cinicamente, se autoproclamaram "apolíticos". A avaliação é da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), em sua coluna semanal no jornal Folha de São Paulo, nesta terça-feira (4).
Publicado 04/10/2016 11:13
“A somatória desse fenômeno alcançou um percentual significativo da população brasileira”, diz a parlamentar, apontando os percentuais que superaram os 30% no Rio de Janeiro e São Paulo. Fato inédito no Brasil.
Para ela, esse resultado “nos leva a concluir que a velha tática da direita de depreciar a política e, sobretudo, as forças progressistas que se opõem ao sistema capitalista, tem dado resultado.”
“O Brasil que saiu das urnas no domingo (2), embora o processo eleitoral ainda não esteja concluído, não apresenta qualquer surpresa. Seu DNA é compatível com as forças políticas que há um mês promoveram o golpe parlamentar, conforme observou o próprio ministro Lewandowski: "foi um tropeço da democracia" — ou seja, um golpe”, afirma Vanessa.
E explicou como se desenrolou o processo: “ Promovem uma ação de ‘desmoralização’ dos partidos de esquerda, tentando passar a ideia de que são eles os responsáveis pela corrupção. E aproveitam-se de uma crise cíclica do capitalismo para tomar de assalto o governo que, aliás, não conquistaram nas últimas quatro eleições.”
Ela alerta para a “capacidade de manipulação” da elite econômica, política e midiática que “distorcem a realidade a partir do momento em que terceirizam a responsabilidade de todas as mazelas econômicas e sociais e conseguem colocar no colo de quem sempre combateu esse sistema a responsabilidade e a culpa por tudo isso, quando são eles os verdadeiros responsáveis pela crise econômica e pela corrupção.”
Projeto diferente de país
“O Brasil real, fruto dessa reviravolta política e do avanço das forças antidemocráticas, conservadoras e neoliberais, só será sentido de fato pela população brasileira nos próximos meses, quando avançarem as reformas que, lamentavelmente, golpearão em cheio os avanços sociais, os direitos dos trabalhadores e o Estado enquanto estrutura que busca combater e enfrentar as desigualdades”, avalia.
E conclui destacando que “o que vivemos domingo foi somente o desfecho de uma etapa da longa luta pelos espaços de poder, cujo objetivo é a implementação de diferentes projetos de país.” E isso ficará claro quando “avançarem as reformas que pretendem implementar no país, cujas vítimas serão nossa gente e o próprio país enquanto nação democrata, soberana e justa com a maioria de sua gente.”