Eleições no Equador: o desafio de avançar com a Revolução Cidadã

Os maiores grupos políticos do Equador já definiram os seus candidatos para a eleição presidencial de 2017, faltando inscrever apenas os postulantes às vagas na Assembleia unicameral. Para o cargo principal, três nomes: Guillermo Lasso, Cynthia Viteri e o general Paco Moncayo, são as principais apostas de uma oposição que não consolida a unidade.

Por Eloy Oswaldo Proaño*

Rafael Correa e Lenín Moreno - Divulgação

O nome escolhido pela aliança governista é o do ex-vice-presidente Lenín Moreno. Pela primeira vez desde 2006, o atual presidente Rafael Correa não participará das eleições.

A sucessão

Após 10 anos de uma estabilidade política inédita no Equador, a governista Aliança Pais enfrenta o duríssimo desafio de tornar sua aposta num projeto político de longo prazo, capaz de superar qualquer personalismo, e neste caso o do presidente Rafael Correa. A chapa que terá essa missão será composta pelos dois últimos vice-presidentes: Lenín Moreno e Jorge Glas.

Lenín Moreno Garcés terá a difícil tarefa de suceder Correa como figura principal do projeto. Há dez anos, quando o Equador vivia uma série de três presidentes derrubados em uma única década e a apatia tomava conta do eleitorado, ele aceitou ser o companheiro de chapa de político novo, o economista Rafael Correa Delgado, que foi ministro de Economia do governo interino de Alfredo Palacio. Hoje, as pesquisas o mostram como o favorito da disputa, com cerca de 40% das preferências do eleitorado.

Chegaram juntos ao poder, com mais de 56% dos votos. Moreno é formado em Administração Pública pela Universidade Central do Equador. Em 1998, após sofrer um assalto, recebeu um disparo que deixou como sequela a imobilidade nas pernas. Em dezembro de 2013, foi nomeado enviado especial sobre a Deficiência pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Nas eleições de 2013, a convenção da Aliança Pais designou a chapa com Rafael Correa acompanhado pelo engenheiro Jorge Glas Espinel, encarregado de impulsar o novo período de governo voltado a uma mudança na matriz produtiva. Junto com Correa, Glas ganhou as eleições no primeiro turno, com mais de 57% dos votos. Em sua gestão empreendeu ambiciosos projetos hidroelétricos, de irrigação e controle de inundações, como a construção das represas Mazar, Coca-Codo Sinclair, Sopladora, entre outras, com as quais o país passou de comprador a vendedor de energia limpa.

No último mês de abril último, após o terremoto que afetou o país, especialmente as províncias de Manabí e Esmeraldas, ele esteve no comando dos trabalhos de reconstrução das zonas afetadas.

A oposição dividida

Do outro lado, a oposição, que vive processo pré-eleitoral, se divide e subdivide, carente de uma ideologia e um programa de governo em comum, afetada pelo conflito entre os interesses e as ambições pessoais de alguns referentes. A oposição tem como meta principal forçar um segundo turno. Isso porque os três nomes mais importantes, Guillermo Lasso, Cynthia Viteri e o general Paco Moncayo, sabem que, nesse caso, contarão com o apoio entre si para vencer a Aliança Pais.

Após uma intensa semana de negociações, o Pachakutik – ala política do movimento indígena – decidiu não levar adiante a postulação de Lourdes Tibán, para apoiar a candidatura de Moncayo.

O primeiro turno será realizado no dia 19 de fevereiro de 2017. Caso seja necessário um segundo turno, se realizará em 2 de abril. Além do presidente e do vice-presidente, o pleito também escolherá os 137 legisladores da Assembleia Nacional.

Segundo o cronograma, a campanha começará no dia 3 de janeiro do próximo ano próximo, e as projeções efetuadas pelo Conselho Nacional Eleitoral indicam que votarão cerca de 13,2 milhões de eleitores.

O ciclo de vitórias eleitorais contundentes da chamada Revolução Cidadã de Rafael Correa, teve seu ponto máximo na vitória de 2013, quando o atual presidente conseguiu 57,17% dos votos e a Aliança Pais obteve as 137 vagas no parlamento. Porém, em 2014, o governismo sofreu uma importante derrota nas eleições regionais, perdendo 20 das prefeituras que mantinha – entre elas Quito e Cuenca, duas das três cidades com maior eleitorado do país, consideradas bastiões do movimento correísta.

Com a queda no preço do petróleo, em 2014, e as efemérides de 2015, como a disparada do dólar e o aumento das taxas de juros por parte da Reserva Federal estadunidense, se criou um clima adverso que reduziu o ritmo de crescimento dos últimos anos, o qual havia mantido uma média de 4,6% em anos anteriores, o que diminuiu os investimentos públicos e limitou as políticas redistributivas.

O banqueiro Lasso insiste

O movimento Criando Oportunidades (Creo) lançará Guillermo Lasso Mendoza, banqueiro e dirigente da Associação dos Bancos Privados do Equador. Será sua segunda tentativa de chegar à presidência, com um discurso de oposição ao governo e com propostas que vão do impulso ao empreendimento ao que ele chama de “defesa das liberdades”.

Seu salto à política se deu no período do democrata-cristão Jamil Mahuad, quando assumiu o cargo de governador da província de Guayas, entre 1998 e 1999. Mahuad o nomeou superministro de Economia num período de crise financeira, no qual as operações da banca foram suspendidas por 5 dias. Depois disso, veio um congelamento dos depósitos por um ano, o que não evitou a quebra de alguns bancos, e o Estado teve que assumir os custos, numa operação de salvação que teve graves repercussões na sociedade equatoriana.

Lasso reapareceu no cenário público durante o governo de Lucio Gutiérrez, quando se desempenhou como embaixador itinerante do Equador em Washington. Foi um dos que elaborou a Carta de Intenções com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em 27 de janeiro de 2003, pela qual o governo se comprometia com um pacote de medidas econômicas que incluíam o aumento do preço dos combustíveis e das tarifas elétricas.

Em 2011, ele fundou o movimento CREO, após formar a agrupação Unidos pelo Equador. Lançou sua candidatura presidencial e ficou em segundo lugar em 2013, com quase dois milhões de votos (22,68%). Também esteve envolvido na formação do coletivo Compromisso Equador, que aglutina figuras que desertaram de outras organizações, como Fanny Campos (Pachakutik), Franco Romero (Partido Social Cristão) e Fausto Cobo (Sociedade Patriótica).

Guaiaquil alavanca Cynthia Viteri, uma cara amigável

Jaime Nebot, dirigente direitista e prefeito de Guaiaquil, abriu o caminho para a candidatura presidencial da advogada e ex-apresentadora de televisão guaiaquilense Cynthia Viteri, representando uma nova coalizão que começou reunindo o Partido Social Cristão e os movimentos Soma, Podemos e Avança. Nome preferido do ex-presidente Febres Cordero, Nebot tentou a presidência em duas oportunidades, e não teve sucesso em nenhuma delas. Agora, sua missão é ajudar a parlamentar Viteri, o rosto mais amigável de sua agrupação.

Na disputa interna, Viteri deixou pelo caminho rivais como Paúl Carrasco, prefeito de Azuay, que tentou impulsar uma aliança eleitoral com os prefeitos de Guaiaquil e Quito, sabendo que nem Nebot nem Rodas tinham aspirações presidenciais – mas não teve sucesso.

Para as eleições de 2006, o PSC a lançou como candidata à presidência. Ela partiu no começo como uma das favoritas, mas terminou num modesto quinto lugar, com 9,63% dos votos. Em 2009, foi eleita para a Assembleia, como representante da província de Guayas. Assim, se estabeleceu como a figura mais nacional da nova coalizão criada por Jaime Nebot, para se desvincular do desprestígio que havia tomado conta do PSC. Em 2013, foi reeleita para o parlamento. Tem sido, nos últimos anos, uma das vozes mais veementes e proeminentes da oposição. Foi expulsa da Venezuela por intromissão nos problemas internos do país.

A centro-esquerda com um general

O ex-prefeito de Quito, Paco Moncayo, conquistou a esquerda descontente com o governo. Ao menos três partidos o apoiam, depois de Pachakutik e Unidade Popular renunciarem a suas aspirações. O general é forte em Quito, o que será um obstáculo para Guillermo Lasso e Cynthia Viteri nesse território crucial – fator que, desde certo ponto de vista, ajudaria em muito um possível triunfo governista.

As organizações sociais e políticas que conformam o Acordo Nacional pela Mudança (Esquerda Democrática, Unidade Popular, Pachakutik, os movimentos Ação Social e Solidária (Mass), Vive, Democracia Sim, entre outros) o proclamaram como candidato presidencial. Moncayo foi reconhecido como “um homem honesto” por Correa.

Sua candidatura tem o apoio de dirigentes que participaram no governo da Aliança PAIS, como Alberto Acosta (ex-presidente da Assembleia Constituinte), Gustavo Larrea, María Paula Romo e Diego Borja, além de Mery Zamora e Roxana Palacios, da União Nacional de Educadores (UNE), e Jorge Herrera Morocho, presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie).

Após se retirar do Exército – foi chefe do comando das Forças Armadas, em 1998 –, Moncayo iniciou sua carreira política, primeiro como deputado nacional, pela Esquerda Democrática. Em 2000, se candidatou à prefeitura de Quito e venceu com mais 60% dos votos. Foi reeleito quatro anos depois, e deixou o cargo em 2009. As aspirações de Moncayo apontaram, logo, à Assembleia, e ele saiu candidato como representante do Movimento Municipalista, com o qual foi eleito. Porém, em 2013, quando competiu pelo Movimento Ruptura 25, não teve o mesmo sucesso.

Há outros candidatos

Há um terceiro grupo de candidatos, que viverão esta experiência com o sonho de pavimentar as bases, de olho nas eleições regionais de 2018 – ou quem sabe nas de 2021. Foi o que aconteceu com o direitista Mauricio Rodas, que fez da disputa presidencial em 2013 um trampolim para se eleger prefeito de Quito, no ano seguinte.

Neste grupo se situam Paúl Olsen Pons, dirigente pecuarista da província de Guayas, pelo movimento Centro Democrático (CD), liderado por Jimmy Jairala. Seu nome foi sugerido por 150 associações de agricultores e pecuaristas, que exigem maior atenção ao setor rural.

Outro candidato é Iván Espinel Molina, médico de profissão, com um mestrado em administração, que se cataloga como “o novo rosto da política equatoriana”: será candidato da Força Compromisso Social. Afirma não crer nas ideologias como um sentido filosófico, mas sim pragmático.

Por sua parte, Washington Pesántez começou sua carreira política após se desempenhar como Promotor Geral da Nação (cargo equivalente ao Procurador Geral da República no Brasil), e anunciou em março sua intenção de se candidatar à Presidência com o movimento que ele mesmo fundou, a União Equatoriana. Se define como um político de linha progressista, mas marca distâncias com o movimento Aliança PAIS e com as organizações políticas de oposição.

Pressões militares

Na onda anticorreísta, parte da oposição acolhei a perigosíssima ideia de que as Forças Armadas devem resistir (ou pior, enfrentar) o governo. Já se passaram quatro décadas desde a última ditadura militar no Equador, mas durante este lapso as Forças Armadas continuaram se intrometendo direta e constantemente na vida civil do país.

Quase todos os presidentes democraticamente eleitos tiveram problemas com a resistência militar a se submeter à superioridade da autoridade civil. Segundo o documentário La Muerte de Jaime Roldós (“a morte de Jaime Roldós”), existem evidência suficiente de que o primeiro presidente depois após o início desta atual era de democracia (que assumiu em 1978) foi assassinado, dentro de uma missão da Operação Condor que contou com a colaboração de militares equatorianos.