Jesualdo Farias: Porque sim!

“O aparelho repressor do Estado parece ávido para aliviar as suas inquietações sem medir consequências. É aí que reside o perigo”.

Por *Jesualdo Farias

debora perde olho - Foto: Jornalistas Livres

Um dos princípios básicos da democracia é o direito à livre manifestação. O Brasil experimenta, desde as manifestações populares de junho de 2013, uma efervescência nas ruas, que muda de intensidade à medida que fatos políticos e/ou sociais motivam a mobilização das massas.

Grande parte das pessoas presentes nas manifestações não pertence a partidos políticos ou sequer é movida por cartilhas ideológicas. Há uma profusão de clamores, predominantemente em defesa das conquistas sociais e contra a corrupção. Mas, o que está em relevo é o direito à livre manifestação pacífica e emoldurada pelo respeito a todas as pessoas. Acontece que o aparelho repressor do Estado parece ávido para aliviar as suas inquietações sem medir consequências. É aí que reside o perigo.

A ação desastrosa da Polícia Militar em São Paulo, durante as recentes manifestações, tem sido tema de muitas discussões nas redes sociais, e bem representa o que o papa Francisco recentemente chamou de “violência cega”. Uma estudante de 19 anos perdeu a visão de um olho ao ser atingida por uma bomba lançada por um policial militar. Vários jovens foram presos sob o argumento de que iriam praticar vandalismo durante os protestos contra o presidente Temer. Bombas de efeito moral e de gás lacrimogênio não pouparam sequer os idosos presentes nas manifestações.

Mas um caso explica de forma muito simbólica o (des)preparo da Polícia Militar na sua missão de garantir segurança aos cidadãos durante estes eventos. Foi quando, em São Paulo, uma jovem estudante, ao ser informada por um policial militar, que estava presa, ela então perguntou: por que? Imediatamente veio a resposta: porque sim!

Esse não foi um evento isolado no conturbado atual momento da política brasileira. “Porque sim” também foi o argumento do parlamento nacional ao justificar o golpe contra a presidente constitucionalmente eleita. “Porque sim” parece também ser o argumento usado para prejulgamentos de pessoas a partir de denúncias sem provas e de convicções. “Porque sim” parece também ser a resposta quando se pergunta: por que a grande imprensa não se posiciona mais intensamente contra esta desconstrução da democracia?


*Jesualdo Farias é professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC)

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