Sindicalistas devem permanecer contra o golpe da direita no Brasil

Visitei recentemente o Rio de Janeiro como um membro da delegação da United Steelworkers (Sindicato dos Metalúrgicos)  para participar do IndustriALL Global Congress. IndustriALL é a federação global que inclui sindicatos d mundo todo nas áreas de fabricação e comércio de energia.

Tony Burke*, no Left Foot Forward

Ministro do STF volta atrás e retira crítica à defesa de Lula - Foto: Agência Brasil

O Congresso teve a sorte de contar com a presença do ex-presidente brasileiro Lula da Silva, que fez um discurso poderoso e emocional, estabelecendo importantes realizações do seu governo e da crise enfrentada agora por conta do golpe contra a presidenta, democraticamente eleita, Dilma Rousseff.

Apesar do golpe, Lula ainda pode se candidatar a cargos – daí a repressão que ele está enfrentando a partir da instalação do governo de direita. Lula ainda é o político mais popular no Brasil, mas poderá enfrentar a prisão, promovida pelos seus adversários, a qualquer momento, em um esforço para silenciá-lo.

Os governos Lula e Dilma e do Partido dos Trabalhadores fez mudanças significativas para ajudar os trabalhadores entre os anos de 2003-2011 (Lula) e 2011-2016 (Dilma).

Entre elas, estão a redução da pobreza em 63 por cento, através de projetos sociais como o programa "Bolsa Família"; a retirada de 22 milhões de pessoas da pobreza extrema através do programa "Brasil sem miséria"; execução do programa 'Mais Médicos', que colocou cerca de 18 mil médicos estrangeiros em regiões pobres do Brasil.

Eles também introduziram o "Minha Casa, Minha Vida', projeto que forneceu casas a preços acessíveis para 1,7 milhões de brasileiros, assim como triplicaram os gastos em educação e em cuidados de saúde.

O golpe de direita no Brasil é resultado de forças neoliberais de direita bem organizadas e bem financiadas – assistida pelos EUA, externa e internamente pela mídia brasileira tradicional e pelas elites econômicas tradicionais que tiveram algum sucesso em minar governos progressistas na América Latina.

Tanto no Brasil como na Argentina, reformas neoliberais desmantelam e reduzem drasticamente os programas sociais. Estas medidas já atingiram milhões de pessoas que trabalham.

Para implementar essas políticas em face da resistência em massa dos sindicatos, movimentos sociais e outros, o Brasil e os governos de direita da Argentina também desenvolveram ambientes políticos repressivos e não democráticos. 54 milhões de brasileiros votaram para reeleger Dilma Rousseff como presidente em 2014 -, mas ela foi retirada com apenas os votos de 62 senadores.

A presidente Dilma foi cassada e afastada do cargo para a realização de "manobras orçamentais', que foram anteriormente utilizadas por muitos governos. A prática orçamental pela qual Dilma foi cassada foi legalizada dois dias depois de seu impeachment pelo mesmo Congresso que votou por sua remoção.

O impeachment viu o Partido dos Trabalhadores do Brasil (PT) afastado do cargo pela primeira vez em treze anos, apesar de não ser derrotado nas urnas, e, aos 76 anos de idade, Michel Temer foi nomeado presidente até 2018, apesar de ter sido impedido de exercer cargos devido a fraudes eleitorais anteriores.

Em resposta, centenas de milhares de sindicalistas e trabalhadores tomaram as ruas exigindo que Temer renuncisse e pedindo novas eleições. Estas manifestações têm enfrentado repressão.

Suporte para Dilma e Lula veio do Congresso Internacional de Sindicatos (ITUC), IndustriALL e outras federações sindicais globais; Reino Unido TUC, Workers Uniting e sindicatos do Brasil, governos vizinhos como Bolívia, Equador e Venezuela retiraram seus embaixadores, após a nomeação de Temer, enquanto Uruguai e Cuba também criticaram o golpe.

Temer implementou uma série de políticas neoliberais, sem qualquer mandato. Ele também é extremamente impopular com o povo brasileiro. Algumas pesquisas mostram uma taxa de aprovação muito baixa.

Inicialmente, ele nomeou um masculino e branco gabinete, em um dos países com maior diversidade etnica do mundo. Além disso, sua administração demitiu cerca de 4 mil funcionários públicos; reduziu o tamanho do programa de saúde pública do Brasil (apesar do acesso aos cuidados de saúde ser constitucionalmente garantido); abolidos os Ministérios da Cultura, Desenvolvimento Agrário, Ciência e Tecnologia (incorporado a outro ministério), Mulheres e Direitos Humanos.

Em poucas palavras, os líderes do golpe buscam reverter treze anos de reformas progressivas realizadas pelo Partido dos Trabalhadores, sem aprovação nas urnas. Sindicalistas e os membros do Partido Trabalhista devem apoiar os sindicatos brasileiros e outras pessoas que trabalham contra este ataque.

Como vimos antes, no Chile e na Nicarágua a ala de neoliberais não vai parar por nada o seu objetivo de derrubar governos progressistas na América Latina, que os EUA ainda considera como seu quintal.

Tony Burke é assistente do secretário-geral do United Steelworkers.