Parente se diz decepcionado com o mercado que ele mesmo defende

 A frustração do presidente da Petrobras com a alta dos preços da gasolina nos postos é, na verdade, hipocrisia, já que os oligopólios e monopólios que temos nos nossos nichos de mercado matam a competição efetiva que, na teoria, regularia os preços de acordo com a demanda dos consumidores.

Por Tadeu Porto*

Combustível - Política Argentina

Que a discussão liberal no país não passa de pirraça de adolescentes, todo o país já notou. Recentemente, Cuenca, no ótimo portal The Intercept Brasil, escreveu um texto interessante sobre o caso, que pode ser lido aqui.

Bom, é natural ver tal ignorância dos amigos do Eduardo Cunha, Kataguiri ou Holiday, ou de membros dos Revoltados Online, como Alexandre Frota. Pessoas que foram utilizadas por uma casta política para manipular a população sobre uma agenda “liberal” que, na verdade, representa a onda mais conservadora que esse país vive desde a época da ditadura.

Basta observar, por exemplo, que nenhum grande movimento nacional adepto do liberalismo faz uma discussão séria acerca das centenas de oligopólios e monopólios que temos nos nossos nichos de mercado que, basicamente, matam a competição efetiva que na teoria regularia os preços de acordo com o desejo de demanda dos consumidores.

Claro, se esperamos tal ignorância de youtubers que viraram economistas da noite para o dia, de certa maneira não deixa de ser surpreendente ver tamanha incapacidade do presidente da maior empresa do país, senhor Pedro Parente.

Na verdade, tal surpresa não deveria existir para alguém com sucessivas mostras de incompetência como executivo (péssimos negócios na RBS e na Bunge, ministro da casa civil que ocasionou o recorde de desemprego no país e presidente do CA da Petrobras que afundou uma plataforma inteira), mas não deixa de ser triste ver o debate nacional político-econômico chegar a esse nível de despreparo, pelas palavras da estatal de petróleo nacional.

O grande exemplo desse fato é a declaração recente do Pedro Parente, que se disse “decepcionado” com o fato de as quedas de preço nas refinarias não terem se refletido nas bombas. A Federação Única dos Petroleiros precisou de três dias para adiantar à população brasileira que a queda de preço é uma benesse para o mercado e não para a população. E olha que o setor privado de derivados conseguiu ser mais canalha do que esperado, não abaixando nem mesmo os três centavos insignificantes da gasolina ou diesel, pelo contrário, aumentando o preço apesar dos preços nas refinarias.

A decepção de Parente é, na verdade, a mesma de todos nós: a destruição do Estado e o fortalecimento de um mercado predatório e que não possui compromisso social algum com o país. Simplesmente, tira dinheiro da Petrobras – mola propulsora do desenvolvimento nacional – e joga num mercado fortemente ligado a cartéis, que alimenta uma minúscula elite que se farta de privilégios oriundos de uma desigualdade social nefasta e desumana.

Sendo assim, a frustração de Parente não passa de hipocrisia, uma vez que a ideologia que ele tanto defende é, certamente, a responsável por essas distorções que, entre outras consequências, aumenta a inflação nacional para favorecer empresários, conluios oligárquicos e rentistas.

*Tadeu Porto é engenheiro eletricista e mestre em Engenharia Elétrica pelo Cefet-MG, é petroleiro e diretor do departamento de formação do sindipetroNF.