Colômbia diz ter três caminhos para aprovar acordo com as Farc

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, afirmou que só convocará um novo referendo sobre o acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) após o fim da nova rodada de negociações em Havana. 

Juan Manuel Santos - Presidência da Colômbia

Santos, que recebeu este ano o Prêmio Nobel da Paz, sofre pressão de setores políticos locais para marcar uma data o mais rápido possível, mas afirmou que isso ainda não ocorrerá.

"Estamos construindo um novo acordo e esperamos tê-lo muito rapidamente. O que eu quero e o que o país necessita é que todo colombiano esteja a par desse esforço porque todos disseram, antes do referendo, que tinham o desejo de alcançar a paz. Estou certo de que estamos diante de uma magnífica oportunidade para unir o país em volta de um novo acordo de paz", disse Santos em Londres.

O presidente, que fez uma viagem oficial à Grã-Bretanha, informou, em entrevista, que o novo referendo pode não ser feito nos mesmos moldes do anterior, em que a maioria dos colombianos votou pelo "não" à paz e que provocou espanto em todo o mundo.

Segundo Santos, assim que o governo colombiano e as Farc chegarem a um documento final, o acordo poderá ser apresentado ao Congresso sem votação pública, "fazer outro referendo" nos moldes do anterior, ou ainda "perguntar aos mais de 1,1 mil municípios se eles aceitam".

Essa última modalidade, chamada em espanhol de "cabildo abierto", seria uma reunião pública entre representantes do Poder Público e habitantes locais, para discutir o tema. A opção havia sido ventilada até mesmo por magistrados após a derrota no referendo. É que depois de os votos serem apurados, percebeu-se que as regiões que mais sofreram com o conflito votaram favoravelmente ao acordo de paz, enquanto as cidades mais centrais – em que não se registram conflitos constantes – votaram "não".

A inesperada derrota nas urnas levou Santos e as Farc a abrir nova rodada de negociações – desta vez incluindo os líderes da campanha do “não”, que se opuseram ao acordo original. O principal opositor é o ex-presidente Álvaro Uribe, antecessor e antigo aliado de Santos. Durante seu governo, a Colômbia optou por combater militarmente a guerrilha e o narcotráfico.

Santos, que foi ministro da Defesa de Uribe, colocou como meta de seu governo a negociação de um acordo de paz. Depois de quatro anos de idas e vindas, o presidente colombiano e o líder dos 7 mil guerrilheiros das Farc, Rodrigo Londoño Echeverri (conhecido como Timochenko), assinaram um acordo de 297 páginas para colocar um fim a meio século de guerra.

Além de uma reforma agrária, o acordo prevê perdão para os guerrilheiros – salvo os que cometeram crimes contra a humanidade – e subsídios para que eles possam depor as armas e se integrar à sociedade civil. As Farc teriam o direito de formar o próprio partido político, para defender suas ideias no Parlamento.

O conflito começou nos anos 60, quando os partidos Liberal e Conservador pegaram em armas para resolver suas diferenças. Os camponeses, vitimas da violência, formaram as Farc – a guerrilha mais antiga da América Latina, inspirada na Revolução Cubana, que lutava pela reforma agrária e uma economia socialista.

O governo e os representantes do “não” se reuniram para tentar encontrar uma proposta que pudesse satisfazer a todos e garantir o fim da guerra. Em comunicado à imprensa, os seguidores de Uribe disseram que “ainda não existem acordos, mas sim coincidências e diferenças com o governo, assim como propostas que permitem construir opções e avançar coletivamente rumo à paz que desejamos”. O comunicado, assinado também pelo ex-presidente Andres Pastrana, diz que “a bola agora está no campo das Farc” e que examinará essas propostas nos próximos dias.