Vanessa Grazziotin: “Em vez de paz, temos um país conflagrado” 

Passados pouco mais de seis meses da consumação do golpe parlamentar e da posse do presidente ilegítimo Michel Temer, em vez de paz temos um país conflagrado, avalia a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), em sua coluna semanal na Folha de S. Paulo, publicada nesta terça-feira (22).

Vanessa Grazziotin: “Em vez de paz, temos um país conflagrado” - EBC

“De um lado, estudantes reagindo com centenas de escolas e repartições públicas sendo ocupadas, diversas categorias profissionais aprovando indicativo de greve e as manifestações de rua se multiplicando. Do outro lado, grupos de direita, que apoiaram o golpe, rasgam acintosamente a Constituição e fazem provocações ao invadirem a Câmara dos Deputados propondo a volta da ditadura militar”, destaca a parlamentar.

Vanessa afirma ainda que “para agravar ainda mais a situação, assistimos atônitas e perplexas ao avanço do crime organizado com a complacência e participação de setores da própria polícia”, em referência aos acontecimentos do último fim de semana, no Rio de Janeiro, com horas de tiroteio e vias interditadas. A morte de quatro policiais na queda de um helicóptero teria causado uma operação de retaliação que levou à morte sete moradores.

“No governo, a calmaria também passa ao largo. Além das novas denúncias da Lava Jato, envolvendo o próprio presidente, cai mais um ministro, o quinto. Marcelo Calero [Cultura] pede demissão e acusa um dos homens fortes de Temer, o ministro Geddel Vieira Lima, de tráfico de influência, em outras palavras, corrupção”, destaca a senadora Vanessa.

Para ela, “tais fatos, somados ao baixo índice de popularidade do presidente e aos péssimos resultados da economia, apontam um cenário gravíssimo, que tende a piorar com a aplicação das demais medidas de austeridade contra o povo”.

Truculência e repressão

A senadora Vanessa avalia que as manifestações contrárias ao governo, com a ocupação das escolas, ocorrem porque o presidente ilegítimo quer impor uma agenda que prejudica os trabalhadores e beneficia os especuladores. “E, ao invés de chamar a população para o diálogo, o presidente Temer usa truculência e repressão e, para acirrar ainda mais os ânimos, os chama de ignorantes”, afirmou a senadora.

As manifestações ocorrem, segundo Vanessa, porque alunos e professores foram ignorados quando se impôs a eles a reforma do ensino médio e um horizonte de congelamento dos investimentos em educação; e os trabalhadores começam a compreender que são os únicos chamados a pagar o pato ao avaliar as consequências da PEC 55, que congela investimentos sociais, salários e retira direitos.

“Em detrimento deles, o governo prioriza o pagamento de uma dívida pública que só cresce com as mais elevadas taxas de juros do planeta. Para a farra dos especuladores, foram reservados R$ 870 bilhões no Orçamento de 2017”, alerta.

E avalia que “depois do congelamento dos gastos públicos, vem aí as reformas da Previdência e a trabalhista, o que deve aprofundar a conflagração social. O quadro tende a piorar, uma vez que todas as previsões são de um cenário de maior recessão. Em suma, essa é a triste realidade de uma nação que teve sua jovem democracia apunhalada”.