Havana começa a retomar atividades depois do adeus a Fidel Castro
A manhã em que Havana viu as cinzas de Fidel Castro deixar a cidade começou sob o impacto dos atos fúnebres que integram as atividades em homenagem ao líder revolucionário.
Por Camilo Toscano, de Havana
Publicado 01/12/2016 10:17
Depois do grande ato realizado na noite de terça-feira (29), em que dois milhões de pessoas foram à Praça da Revolução prestar honras a Fidel, o cortejo que repete a Caravana da Liberdade de 1959 partiu às 7h desta quarta-feira (30) rumo a Santiago, leste da ilha, deixando um ar que mesclava tristeza com apropriação pelos cidadãos cubanos das principais bandeiras que marcaram a vida de Fidel.
O choro de alguns foi diminuindo pouco a pouco e passou a conviver com a reabertura de estabelecimentos, num primeiro sinal de retomada da normalidade. Nas conversas, a magnitude e o simbolismo do ato eram ressaltados, junto com frases que expressavam que a partida de Fidel não irá mudar os rumos do país.
"Nada vai mudar em Cuba com a morte de Fidel", disse Amalys Gonzales, 42, repetindo a frase mais ouvida quando se perguntava sobre o futuro do país.
Ao longo do dia, mais pessoas saíram às ruas do que nos dias anteriores para retomar suas atividades. "É como a morte de um parente. No primeiro dia, você se retrai e chora muito; no segundo, sente-se triste; no terceiro, a dor está ali, mas você já começa a se conformar. Depois, a vida precisa seguir", explica José Hernandez, 52, guia turístico que diz sentir tanto a morte de Fidel quanto o impacto dos dias que ficou sem trabalhar.
A venda de álcool segue proibida até a próxima segunda-feira (5), quando se encerra o luto de nove dias decretado pelo governo. A recomendação para que não se realizem atos públicos, que fez desaparecer a música que normalmente alimenta a cidade, também contribui para uma Havana pouco agitada.
Contudo, já nesta quarta-feira (30) mais gente circulava pelo centro velho da capital cubana. O Museu Nacional de Belas Artes, que estava fechado, reabriu. Já em Guaijirito, local onde se apresenta o Buena Vista Social Club, cartão postal cultural da cidade, como na Floridita, que era o local predileto do escritor norte-americano Ernest Hemingway, as portas ficarão fechadas até o fim do luto.
Os turistas buscam alternativas para a diversão. Alguns, como os canadenses David Platt, 53, e Allan Doucette, 56, fazem questão de viver o momento pelo qual passa Cuba. "Ninguém poderia prever que Fidel morreria agora e a cidade estaria de luto. Mas venho a Cuba porque gosto e desde a primeira vez que estive aqui, no fim dos anos 1980, entendi que em Cuba se respira política", diz Platt. "Para mim, isso faz parte de Cuba, mas tem muitos turistas que vêm aqui e não se interessam por isso. Na verdade, não se interessam pelo país que estão visitando."
Martin Santi, 46, diz ainda estar tocado pela morte de Fidel e acha que o luto vai durar mais um tempo. Ele diz ter acompanhado o ato ontem e ter saído com a certeza de que Fidel foi reconhecido como quem fez Cuba ser o que é hoje. "O povo cubano disse 'eu sou Fidel'. Mas me impressionou como ele era querido também internacionalmente. Isso é pela ajuda na Saúde que ele deu em nome de Cuba a muitos países", avalia.
Hernandez concorda que "o homem era querido em Cuba" e diz esperar que os restaurantes privados abertos após a adoção de novas políticas nos últimos anos por parte do presidente cubano, Raúl Castro, possam manter suas atividades como guia. "Cuba precisa muito do turismo. Trabalho com passeios por lugares que estão fechados e espero que sejam abertos pelo governo, como aconteceu no sábado, sem bebidas e sem música", diz.
O cortejo com as cinzas de Fidel passou nesta quarta-feira (30) pelas cidades de Mayaveque, Matanza e Santa Clara, no interior do país. Ainda passará por Santo Espírito, Ciudad de Ávila, Camaguye, Las Tunas, Olguín e Santiago, aonde chega no sábado (3).