Farc adia transferência para zonas de desmobilização

As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) informaram nesta terça-feira (06) o adiamento da transferência dos guerrilheiros para os locais onde devem se concentrar como passo prévio ao desarmamento e à desmobilização devido à falta de infraestrutura nessas áreas e a "obstruções jurídicas".

Guerrilheiros das Farc na selva - AFP

A concentração em 23 zonas rurais faz parte do acordo de paz assinado em 24 de novembro e deveria ter sido iniciada nesta terça-feira, segundo o cronograma estabelecido a partir da aprovação do pacto pelo Congresso colombiano, na última quarta-feira (30). Entretanto, segundo afirmou o chefe da equipe negociadora das Farc, Ivan Márquez, a transferência não será possível enquanto não entrarem em vigor "as suspensões de ordens de captura" dos guerrilheiros.

“É compreensível que ninguém empreenda movimentos até as zonas de concentração se se corre o risco de ser detido”, declarou Márquez em conferência de imprensa em Bogotá.

As Farc reiteraram o compromisso de cumprir o acordo, se desmobilizar e deixar as armas, e asseguraram que se ofereceram para que os guerrilheiros trabalhem na construção da infraestrutura necessária para alojá-los nas zonas e pontos de reunião.

"Estamos muito próximos, mas não podemos ser irresponsáveis e entrar onde não há onde dormir e fazer as necessidades básicas", destacou Joaquín Gómez, outro dos negociadores das Farc. Ele esclareceu que o grupo se dispõe a contribuir nas obras de infraestrutura das zonas que receberão os guerrilheiros e que o tempo trabalhado pode ser descontado das sanções restaurativas que serão estabelecidas aos membros da guerrilha através da Jurisdição Especial de Paz.

O acordo de paz, referendado pelo Congresso em 30 de novembro, estabelece que no dia seguinte a esse passo começaria o "dia D" para a implementação do pactuado. Isso inclui o início, cinco dias depois (nesta terça-feira), da mudança dos guerrilheiros às zonas onde se concentrarão.

"Nos mantemos firmes no propósito de paz, com a esperança de que finalmente este abrace a Colômbia", disse Márquez ao enfatizar o compromisso das Farc com o processo, apesar do adiamento do início da mudança.

Neste sentido, comentou que uma vez que fiquem nas zonas projetadas, o governo "transferirá para esses espaços os guerrilheiros e colaboradores presos por crimes não indultáveis, segundo a legislação anterior à entrada em vigência da lei de anistia".

Esse projeto legislativo, que deve ser aprovado no Congresso, contém o perdão jurídico aos guerrilheiros que não tenham cometido delitos graves segundo a tipificação do Estatuto de Roma, tais como crimes contra a humanidade, abusos sexuais e recrutamento de menores, entre outros.

Márquez esclareceu que o mecanismo de monitoração e verificação do cessar-fogo, composto por membros das FARC, o governo e a ONU, está realizando visitas a essas zonas para "de maneira coordenada estabelecer a infraestrutura necessária para receber os guerrilheiros".

Seusis Pausivas Hernández, outro dos negociadores das Farc, afirmou que os membros da guerrilha passaram de "cenários de desdobramento estratégico para a guerra" para o "desdobramento estratégico para a paz".