Orlando Silva Jr.: Aos mártires da nossa história

Há 40 anos, uma operação militar que resultou nas mortes de 3 dos principais dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) marcou, de forma brutal, os últimos anos da ditadura militar no país.

Orlando Silva - Foto: Clécio Almeida

Foi na Rua Pio XI, no bairro da Lapa, na cidade de São Paulo, em 16 de dezembro de 1976, que o silêncio foi quebrado pelas rajadas de metralhadoras. Eram vários homens atirando contra uma pequena casa, onde outrora tinha sido realizada a última reunião do Comitê Central do PCdoB daquele ano.

No chão, além das milhares de balas, dois corpos, Pedro Ventura de Araújo Pomar, de 63 anos, e Ângelo Arroyo, de 48, grandes líderes de seu tempo, levaram para o túmulo uma história singular, de lutas e de sonhos de um Brasil livre. Naquele mesmo dia, outro grande líder seria mais uma vítima do brutal regime militar, João Batista Drummond, morto sob tortura, no DOI-Codi.

A Chacina da Lapa, como ficou conhecida, foi mais um crime na lista de muitos outros praticados pelo regime. Uma execução que guardará lugar na história por seu requinte de crueldade, inspirado na ideologia de violência semeada na época.

Lembrar da Chacina da Lapa é mais do que uma homenagem justa e necessária, é denunciar as marcas que aquele período deixou e que se entranharam em nossa história e sociedade.

A violência policial e repressão testemunhada naquele episódio, que usurpou de nossos camaradas a vida e luta por um país livre e soberano, deixou herdeiros que repetem essa mesma violência pelas ruas de todo o Brasil. Tal como foi naquele período, hoje, testemunhamos a perseguição e repressão aos que, nas ruas, lutam por um Brasil soberano, livre e incluído.

Os filhos e filhas dos que resistiram durante a repressão legaram ao país a certeza de que com luta alcançamos vitórias. Esses herdeiros da Democracia, tal como a gerações passadas, viram sonhos e direitos serem roubados, como hoje testemunhamos com propostas como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, que atacam frontalmente o futuro do país.

Infeliz o país que precisa de heróis, escreveu Bertold Brecht meio século atrás. Felizmente, o Brasil teve e tem muitos. Teve os mortos e torturados da Lapa, teve os centenas de assassinados, os milhares de torturados, presos e perseguidos durante a ditadura militar.

Tem todos os que, hoje, ousam lutar e ousam vencer. Esses lutadores e lutadoras jamais serão esquecidos.

É inspirado nos mártires de nosso Brasil que minha luta se renova. Pendo que ao olhar para o nosso futuro, nunca devemos esquecer do nosso passado. Ele nos inspira a crer que uma outra sociedade é possível, a qual acolha os sonhos de todos e todas que a longo da vida construíram nossa história.