Aurelisnor Matias: Sobre 2016

“Aumenta a resistência, setores que antes apoiaram o golpe, com a descoberta da verdade, a intensificação da crise e à medida que o governo ilegítimo aplica seu receituário, a sociedade passa a enxerga com nitidez as verdadeiras razões da cassação da Dilma”.

Por *Aurelisnor Matias

2017

O que dizer de um ano como 2016? Certamente o fatídico ano entrará para a historiografia brasileira como os trágicos anos de 1954 e 1964, com o suicídio de Getúlio Vargas e o golpe militar, respectivamente. Ano em que um golpe parlamentar afastou a presidenta eleita sem crime de responsabilidade e com frágil base jurídica.

Para o sociólogo Jessé de Sousa, as raízes do golpe nasceram em 2013, ano em que as manifestações iniciadas contra o aumento das passagens foram manipuladas pela grande mídia, em especial o Jornal Nacional da Rede Globo, o qual montou uma narrativa de que a insatisfação popular era generalizada e baseada na corrupção estatal. E foi se construindo uma imagem do PT como símbolo de corrupção no seio do Estado. Mediante a manipulada e seletiva Operação Lava Jato, apresentaram o juiz Sérgio Moro como símbolo de moralidade e salvação do país, que ainda tenta, a todo custo, excluir das eleições presidenciais de 2018 o ex-presidente Lula.

O que se viu, pela primeira vez depois da ditadura, foi o avanço de uma direita que antes não ousava dizer o nome, respaldada por uma fração da classe média moralista e conservadora, adepta de um cristianismo fundamentalista e intolerante, ainda de mentalidade escravocrata que sempre odiou os pobres. Com discurso de perda de status, de que nada funciona pois a corrupção se instalou, de apresentar soluções extrajudiciais para o enfrentamento da violência “dos de baixo”, e com menor apoio à propaganda do retorno à Ditadura.

Consumado o golpe parlamentar, jurídico e midiático e a instalação do governo Temer, sem prestígio e sem qualquer apoio popular, ficou claro o seu objetivo: é contra a democracia, contra o povo e a soberania nacional.

O alvo a ser abatido é o processo de inclusão social brasileiro de 2003 a 2013, e o retorno das políticas neoliberais dos anos 80 e 90. Para os neoliberais não interessa o cidadão e sim o consumidor. O usurpador da cadeira presidencial já começou a entrega do pré-sal às multinacionais, congela os gastos públicos por vinte anos, e pretende eliminar históricos direitos trabalhistas.

Por outro lado, aumenta a resistência, setores que antes apoiaram o golpe, com a descoberta da verdade, a intensificação da crise e à medida que o governo ilegítimo aplica seu receituário, a sociedade passa a enxerga com nitidez as verdadeiras razões da cassação da Dilma.

Surgem novas formas de lutas, especialmente por parte da juventude, como as ocupações das escolas, com o exemplo de criticidade da estudante paranaense Ana Júlia.

A pulsante comunicação de massa, através das emergentes redes sociais pela internet, possibilita uma verdadeira guerrilha de informação contra a mídia hegemônica.

Se a frágil democracia brasileira foi aviltada em 2016, a sua plena restauração está na ordem do dia!

*Aurelisnor Matias é professor e dirigente do PCdoB no Cariri.

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