Assis Melo projeta resistência contra retrocessos

Liderada por um operário, Daniel Almeida (BA), a Bancada do PCdoB na Câmara dos Deputados ganha o reforço do sindicalista gaúcho Assis Melo. Em um cenário de ameaças aos direitos dos trabalhadores, com as reformas da previdência e trabalhista, o deputado destaca sua experiência no “chão da fábrica” e na luta por conquistas sociais.

Por Iberê Lopes

Assis melo

Atuante no movimento sindical desde 1987, Assis Flávio da Silva Melo (PCdoB-RS) foi diretor de base até o começo dos anos 1990 no Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul, cidade serrana do Rio Grande do Sul. Também atuou na vice-presidência da entidade, entre 1993 e 1997. Em abril de 2011, Assis Melo foi reeleito para mais um mandato à frente do Sindicato.

O parlamentar, que iniciou sua trajetória na Câmara dos Deputados em 2011 (54ª Legislatura), é natural Monte Alegre dos Campos. No município de Caxias do Sul militou junto aos metalúrgicos, onde se tornou o vereador mais votado em 2008 e candidato a prefeito nas eleições municipais em 2012.

Com uma biografia ligada à luta no “chão de fábrica”, Assis conversou com o PCdoB na Câmara nesta quinta-feira (19) e destacou como bandeiras a retomada do desenvolvimento do país, a defesa dos direitos dos trabalhadores e a geração de empregos.

“Voltamos num cenário bastante adverso para nós e para as forças democráticas e progressistas do nosso país. Hoje, vivemos uma recessão e uma ofensiva aos direitos dos trabalhadores. O Partido sempre defendeu a soberania do povo e vai procurar protagonismo na luta pela sociedade, avançando na compreensão política”, afirma o deputado.

Segundo o parlamentar, estamos distantes do quadro de estabilidade política e econômica que o país viveu durante os governos de Lula e Dilma. “Nós experimentamos um momento de crescimento e distribuição de renda. Aqui na Câmara, avançamos em direitos dos trabalhadores e melhoria salarial. É preciso que se entenda que estes direitos conquistados estão sendo aviltados neste momento”.

A crescente criminalização dos movimentos sociais, desrespeitando a livre manifestação, também é uma preocupação de Assis, acostumado com o enfrentamento nas ruas. Ainda nesta semana, tivemos como evidência da calamitosa situação a prisão de Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). “Isto é fruto de um Estado de exceção. Uma ameaça às liberdades democráticas. Precisamos sair na defesa dos direitos da população de se manifestar.”

Assis Melo ainda acrescenta que, recentemente, o Amazonas também foi palco de uma verdadeira “perseguição” aos trabalhadores. A Justiça do Trabalho do estado havia acordado com as empresas um reajuste de 8% para os rodoviários e as empresas não cumpriram a determinação. “O sindicato foi à greve e um juiz determinou a prisão de todos os diretores. Precisamos nos colocar em solidariedade as lideranças sindicais”.

Luta contra os retrocessos do governo golpista

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a taxa de desemprego no Brasil deve chegar a 13,6 milhões. Estes são os efeitos da pior recessão dos últimos tempos, e que o governo de Michel Temer encara com menos investimentos sociais e diminuição de incentivos para o crescimento do país. “Por isto que é golpe o que a direita está fazendo. Eles não têm compromisso social. Estas medidas jamais passariam pelo crivo do voto popular”.

Para Assis, é impossível conceber que um governo proponha congelar o orçamento como fizeram com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/16 (241/16 na Câmara). “Infelizmente uma grande maioria votou a favor disso, um grande retrocesso. Para que se entenda, uma criança que nasceu hoje vai ter que esperar 20 anos para ter um recurso do governo na área da educação e da saúde”.

Com um perfil neoliberal, a gestão de Temer desconsidera outras fontes de arrecadação para o fortalecimento das contas públicas, impondo um ajuste apenas para os mais pobres, como reforça o deputado. “Precisamos taxar as grandes fortunas e verificar novas fontes”. Atualmente existem mais de R$ 27 bilhões em impostos sonegados, apontam dados do site “Quem Paga a Conta”.

“Aqueles que estão no poder já resolveram sua situação financeira e tentam impor condições desumanas para a sociedade. O governo Temer parece o mordomo da Casa Grande, oriundo de um sistema onde não havia legislação que garantisse direitos aos trabalhadores”, salienta.

Sobre a unidade das forças de esquerda, Assis Melo vê como fundamental para a reversão do golpe e salienta que não há como reverter a crise política e institucional com um “governo que não tem legitimidade”.

“O nosso desafio é fazer a sociedade entender qual projeto interessa para ela. Não só a esquerda precisa se unir, mas todos os progressistas. Nós temos que pensar que projeto de nação queremos. Resgatar o avanço social e o desenvolvimento do país. Aí sim nos resgatamos o protagonismo da esquerda”, defende o parlamentar.