Arruda Bastos: Um contraponto à insensatez

“Revigorado fiquei com a visita do líder do maior partido de oposição a Lula. Foi uma atitude contrária ao atual senso comum da disputa rasteira e uma atitude louvável. Ao se abraçarem, deram um exemplo para o nosso dividido Brasil”.

Por *Arruda Bastos

Lula e FHC

Pensei em não escrever falando da lamentável morte da ex-primeira-dama, Marisa Letícia, já que o número de artigos e textos publicados é imenso, do tamanho da sua importância e do papel desenvolvido por ela na sua trajetória de mulher guerreira. Entretanto, a visita do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao ex-presidente Lula me emocionou e serviu de inspiração para colocar no papel o sentimento e as lágrimas que marejaram meus olhos ao ver as fotos divulgadas na imprensa.

Muitos podem não ter tido a sensibilidade de perceber e de sentir que o fato foi além do protocolar entre políticos e representou um ato de solidariedade, um exemplo a ser seguido por todos. Nas nossas vidas, não devemos colocar rixas pessoais acima dos sentimentos inerentes a todo ser humano. Acho que a minha emoção foi constatar que nem tudo está perdido e que ainda existe uma esperança no fim desse túnel de insensibilidade.

Revigorado fiquei com a visita do líder do maior partido de oposição a Lula. Foi uma atitude contrária ao atual senso comum da disputa rasteira e uma atitude louvável. Ao se abraçarem, deram um exemplo para o nosso dividido Brasil. A solidariedade com o seu adversário, que passa por um momento de grande sofrimento, demonstrou maturidade. Tenho certeza que, depois da visita de FHC, muitos dos incautos passarão a ter uma nova postura. Não existem desavenças tão grandes que não possam ser suplantadas por atos civilizados.

As redes sociais têm catalisado uma enxurrada de atitudes bestiais que não são compatíveis com o grau civilizatório em que chegamos. Parece até que elas representam uma máquina do tempo que transporta os imbecis para períodos nos quais o mundo vivia na barbárie. Como aceitar sem se indignar que alguém possa desejar a morte ou a doença de um semelhante só por não concordar com sua ideologia ou posições políticas? Isso é inconcebível.

Um sentimento de tristeza tem me acompanhado nos últimos tempos, e, durante todos os dias de internação de Dona Marisa, ainda mais. Atitudes como os vazamentos sem nenhum pudor na internet de exames, laudos e informações médicas que deveriam ser guardadas a bem da ética e do sigilo profissional me deixaram ainda mais indignado. Tudo muito lamentável.

Marisa Letícia foi um exemplo de mulher, esposa, mãe, primeira-dama e militante política. Um símbolo que vai deixar marcas, saudades e, principalmente, seu nome eternizado junto ao povo e a todos nós que lutamos por um mundo mais justo, fraterno e igualitário. Viveu intensamente o amor a Lula, a sua família e aos brasileiros. As lágrimas que rolam agora servirão para impulsionar as novas lutas.

Como não posso fazer o mesmo que FHC e, pessoalmente, abraçar o nosso eterno presidente Lula, encaminho neste artigo minha solidariedade à família e a todos os brasileiros dizendo que a maior homenagem a nossa ex-primeira-dama é seguir o seu exemplo de luta e força. Que Deus conforte a todos!

Quando já estava terminado o meu artigo e prestes a publicá-lo, assisti na imprensa uma série de outros políticos indo ao encontro de Lula. Considero a atitude civilizada e, como único senão, pondero a exagerada divulgação e o grande número de pessoas em uma mesma visita como foi o caso de Temer. FHC foi mais discreto, e as fotos divulgadas são do Instituto Lula. Embora não concordando, a reação dos presentes, que os receberam com vaias, era de se esperar.

Conclamo também todos os cidadãos de bem para se engajarem em uma cruzada contra a insensibilidade, a falta de humanidade, leviandade e inverdades em nossas relações pessoais e nas redes sociais. Afinal, só o amor e a verdade constroem e libertam.

*Arruda Bastos é médico, professor universitário, escritor, radialista, ex-secretário da saúde do Estado do Ceará e um dos coordenadores do Movimento Médicos pela Democracia.

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