Mianmar: O sofrimento dos muçulmanos

Um dos países mais martirizados do Mundo parece não conseguir conter a raiva, mesmo quando a história lhe oferece algumas soluções decisivas

Htin Kyaw

Falamos de Mianmar (Birmânia ou, oficialmente, República da União de Mianmar) que em março de 2015 elegia Htin Kyaw, o primeiro presidente eleito em eleições livres após 25 anos de política ditatorial, dominada pelo exército. Kyaw é o homem de confiança da ativista Aung San Suu Kyi, prêmio Nobel da Paz, secretária-geral da Liga Nacional pela democracia e filha de Aung Sa, considerado o pai da Birmânia moderna, prometia também um novo rumo para o país que, ela mesma, a 6 de abril do mesmo ano assumia o recém-criado cargo de Conselheiro de Estado, um papel semelhante ao de um primeiro-ministro. Htin Kyaw e ela prometiam construir a nova Birmânia, um Mianmar para todos.

Não é o que se passa.

Se em 2012, em junho e a outra em outubro, orquestradas por grupos extremistas de maioria budista em Rakhine, deixaram cerca de 140 mortos rohingya, centenas de casas e edificações muçulmanas destruídas e 100 mil desabrigados, em novembro de 2016, a operação que o exército de Mianmar levou a cabo no oeste do país levou centenas de muçulmanos rohingya a tentarem atravessar um rio e entrar no Bangladesh, deixando mais de uma centena de mortos para trás – sob a justificação oficial de “que os rohingya são terroristas”.

Nem a Prémio Nobel consegue deter uma raiva ancestral e uma vontade profunda de agir em nome de um racismo inexplicável. A destruição de uma minoria parece ser a missão histórica de alguns poderosos birmaneses. Um ódio muito antigo, que opõe budistas a muçulmanos (e, em particular, budistas à minoria muçulmana Rohingya).

Os rohingya, grupo étnico islâmico, foram marginalizados em vários países, sendo perseguidos por motivações étnicas e religiosas, tendo de se refugiar em guetos e favelas, a ponto da Organização das Nações Unidas ter considerado o grupo – que não chegará aos dois milhões de pessoas – como uma das minorias mais perseguidas do mundo. O pertencerem ao mundo islâmico parece ter-lhes retirado protagonismo na imprensa ocidental, cujas bitolas querem fazer crer que há um só Islão no mundo – esquecendo que se trata de um quinto da Humanidade com caraterísticas autónomas e bem diferenciadas caso a caso, povo a povo.

Em Mianmar, os rohingya são proibidos de se casar ou de viajar sem a permissão das autoridades e não têm o direito de possuir terra ou propriedade.

Os refugiados rohingya encontraram refúgio temporário em campos no Bangladesh.

Mianmar é um país do sul da Ásia continental limitado ao norte e nordeste pela China, a leste pelo Laos, a sudeste pela Tailândia, ao sul pelo Mar de Andamão e pelo Canal do Coco, a oeste pelo Golfo de Bengala e a noroeste pelo Bangladesh e pela Índia. A cultura do país baseia-se no budismo teravada influenciado por elementos locais (nota: Teravada ou Theravada, literalmente “Ensino dos Sábios” ou “Doutrina dos Anciões”, é a mais antiga escola budista. Foi fundada na Índia). A guerra começou desde logo entre etnias.

Mianmar tornou-se independente do Reino Unido em 4 de janeiro de 1948, com o nome oficial de “União da Birmânia”, designação que voltou a adotar após um período como “República Socialista da União da Birmânia” (4 de janeiro de 1974 a 23 de setembro de 1988). Em 18 de junho de 1989, o regime militar birmanês anunciou que o nome oficial do país passaria a ser União de Mianmar. A nova designação foi reconhecida pelas Nações Unidas e pela União Europeia, mas não pelos governos dos Estados Unidos e Reino Unido.

Em 2006, a capital do país foi transferida de Rangum para Nepiedó.

As forças armadas birmanesas controlaram o governo desde que o general Ne Win liderou um golpe de Estado em 1962 para derrubar o governo civil de U Nu.