Penélope Toledo: O futebol-emoção sobrevive!
Quem pensa que futebol se joga só com os pés ou com a cabeça está enganada/o. Futebol se joga com a alma. É de emoções intensas, jogos épicos e do imponderável que ele se nutre. E quando tentam aprisioná-lo em fórmulas sufocantes e padrões lógicos, eis que ele reage.
Publicado 09/02/2017 07:55
Heróica. É o adjetivo que melhor define a classificação do Atlético Tucumán na Libertadores. Teve seu voo atrasado em quase três horas, precisou deixar para trás parte de sua delegação e torcida, foi aterrorizado pelo fantasma do W.O., “voou” a 130km/h em direção ao estádio, jogou com uniforme improvisado da seleção argentina, entrou em campo sem se aquecer, venceu, se classificou. Mais, deu sopro de vida ao futebol-emoção.
Embora com enredos dramáticos diferentes, o episódio me remeteu à inacreditável “Batalha dos Aflitos”, em 2005. Aos 35 do 2º tempo, valendo o título e o acesso à Série A do Brasileiro, o Grêmio, jogando fora de casa e com apenas seis jogadores em campo tinha diante de seu goleiro uma cobrança de pênalti – a segunda, a primeira havia explodido na trave. Mas o futebol surpreende, a bola não entrou e o tricolor ainda marcou.
A Copa do Mundo também tem suas epopeias. Uma das mais lendárias é o confronto entre Uruguai X Gana, em 2010. Teve até atacante fazendo belíssima defesa com as mãos e salvando a pátria no segundo tempo da prorrogação. E tal qual a Batalha dos Aflitos, tudo o que parecia perdido quando a bola foi colocada na marca do pênalti, repentinamente mudou quando a cobrança esbarrou no travessão.
Por falar em reviravolta, as/os torcedoras/es que deixaram o estádio Palestra Itália no intervalo da final da Copa Mercosul de 2000, quando o Palmeiras vencia o Vasco por 3 a 0, ficaram boquiabertas/os ao saber que o clube cruzmaltino é que sagrou-se campeão. Parecia impossível, mas Romário tinha estrela. Marcou três e comandou a incrível virada nos acréscimos.
Como o futebol não tem fórmulas e nem roteiro, os três gols – feito inédito em uma final da Libertadores! – de Thiago Neves em 2008 foram insuficientes para dar a taça ao Fluminense, que viu o goleiro Cevallos, da pequena LDU, defender três pênaltis. Tricolor declarado, Nelson Rodrigues já se encantava com o imponderável do futebol e atribuía ao “Sobrenatural de Almeida” a culpa pelo time perder quando tinha tudo para ganhar.
São apenas alguns exemplos, dentre muitos, de que mesmo com tanto apelo mercadológico, corrupção nos clubes e federações, interferência midiática e opressão às torcidas, o futebol ainda emociona. Ainda é capaz de nos proporcionar momentos maravilhosos, de nos tirar o fôlego e nos deixar perplexos com seus enredos imprevisíveis. E é por isto que a gente é apaixonada/o por ele.