Guadalupe Carniel: Os mitos de Tucumán
Tucumán é uma cidade cheia de lendas e mitos. Alguns mitos e lendas são reais, como no caso da mais famosa cantora nascida lá, Mercedes Sosa. Mas talvez nem ela, patriota que só (afinal nasceu na casa onde foi declarada a Independência da Argentina), conseguiria fazer uma letra que retratasse tão bem o que aconteceu com o Atlético Tucumán.
Guadalupe Carniel*
Publicado 08/02/2017 13:52
A Libertadores começou faz duas semanas com o seu formato inchado. E claro, apesar de tentar adotar o modelo europeu, existe algo nessas terras latinas que nos torna únicos: somos os reis do drama. Sabe aquilo de que nada vai dar certo, mas não tem como desistir? Foi assim que o Atlético Tucumán conseguiu epicamente passar pelo Nacional em Quito por 1-0 para a próxima fase quando jogará contra o Junior Barranquilla.
E claro, quem gosta de Libertadores prefere ver os jogos de equipes consideradas menores. É legal ver time grande? Ok. Mas nada como ver um jogo entre Carabobo e Junior Barranquilla. Ou entre Atlético Tucumán e El Nacional. Esse jogo tirou o fôlego de todos e boa parte se passou fora de campo.
Cerca de quatro horas antes da peleja começou o drama. A equipe que estava em Guaiaquil decidiu viajar na hora da partida já que muitos jogadores passam mal devido a altitude de Quito. Só que a empresa chilena que ia levar o time não tinha autorização para realizar voos domésticos. Então, a solução foi arrumar outro avião. E conseguiram, só que 40 minutos antes da partida começar. Mas não couberam todos, cerca de 120 hinchas e até o presidente ficaram de fora.
O estipulado, pelo regulamento do torneio, era para que o Nacional esperasse 45 minutos após o horário previsto para o início do jogo e que, segundo seus dirigentes, deveria ser cumprida já que, por exemplo, a equipe equatoriana chegou três dias antes em Tucumán para a partida de ida. O tempo passou e o avião chegou em Quito 15 minutos antes da partida. Enquanto o Atlético voava, um ônibus escoltado já os esperava na pista. A 130 quilômetros por hora o ônibus foi em direção ao estádio. Ah isso sem contar o embaixador argentino no Equador que clamou que esperassem e que largassem de lado o regulamento “Que no me rompan las bolas! Que jueguen por el pueblo y el gobierno argentino!”.
Mas Mario Avila, dirigente do Tucumán tratou de acalmar os ânimos do Nacional e decidiram esperar já que não foi um problema do clube. Com 54 minutos de atraso a equipe chegou. Só que havia um porém: como não puderam despachar as malas pegaram um uniforme emprestado de ninguém menos do que a seleção. Sim, a da Sub-20, mas e daí? Quando esses jogadores teriam a oportunidade de jogar com a camisa de seu país? E outra, essa era a cor clássica da equipe de Tucumán. Meia hora depois entraram em campo.
Ah, a partida? Diante de 30 mil pessoas em Atahualpa, o Atlético foi copeiro, ditou o ritmo, manteve o controle e estava bem organizado (apesar da total falta de organização fora de campo). Com um gol de cabeça de Zampedri o Atlético se classificou nos temíveis 2.900 metros de Quito. Depois dessa partida, os torcedores que ficaram presos em Guaiaquil e outros lugares pelo caminho, puderam comemorar. Até Maradona, considerado Deus, se rendeu ao feitos da equipe. Inclusive nesse momento la Negrita, Mercedes Sosa, deve estar feliz comemorando e já deve estar tentando escrever uma letra a altura do Tucumán.