Mesmo com chuva, Seca ainda preocupa cearenses
Apesar de os últimos dias o Estado ter sido beneficiado com precipitações em todas as regiões, a preocupação com mais um ano de seca ainda atormenta agricultores, estudiosos e governos.
Publicado 13/02/2017 12:59 | Editado 04/03/2020 16:23
“Oh! Deus, perdoe este pobre coitado que de joelhos rezou um bocado pedindo pra chuva cair sem parar”. Composta pelo mestre Luiz Gonzaga, a canção “Súplica Cearense” ainda é atual e motivo de preocupação de cearenses e nordestinos. Do século passado aos dias de hoje, permanece o clamor por chuvas para amenizar os impactos da seca, que castiga, assola e preocupa.
As previsões não são animadoras: a quadra chuvosa do Ceará deverá ter precipitações abaixo da média histórica. Conforme o estudo encabeçado Ministério da Ciência Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o Estado tem a pior situação no Nordeste, já que depende da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).
E a Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme) confirma a pesquisa. Segundo o meteorologista Raul Fritz, o resfriamento das águas do Atlântico Sul é a causa para a queda na probabilidade de chuvas. “Na época da primeira previsão havia um dipolo favorável no Oceano Atlântico. As águas próximas ao Nordeste estavam mais quentes que as acima do Equador. Agora está um dipolo desfavorável para a chuva. E ele é o que regula a ZCIT”, afirma.
Esperança renovada
A preocupação continua, mas a fé do cearense a espera de dias “bonitos pra chover” teima em se fortalecer. E o final de semana foi para renovar a esperança, com as maiores precipitações do ano. Com as chuvas confirmadas em várias cidades, alguns açudes começaram a registrar aumento no volume de água, ainda que insignificante, dentre eles o Castanhão, principal reservatório cearense, que aumentou seu volume de 4,93%, na última sexta-feira (10), para 4,96% da capacidade total.
Dados apresentados pela Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) apontam que o volume atual nos reservatórios cearenses é de 1,16 bilhão, de metros cúbicos, o que representa 6,22% de uma capacidade total de 18,64 bilhões de metros cúbicos.
Apesar das recentes chuvas, Raul Fritz ressalta que, devido à situação crítica, após cinco anos consecutivos de seca, "seria necessário chover por dois meses seguidos, quase que diariamente, para que as bacias hidrográficas pudessem atingir um volume de acúmulo de água satisfatório, o que não tem acontecido. A qualidade da nossa quadra chuvosa vai depender da quantidade de dias de precipitações no Estado".
Cidades beneficiadas
Em Russas, segundo boletim da Funceme, choveu 50 mm, além das cidades de Fortim (52 mm), Morada Nova (61 mm), Iracema (67 mm), Crateús (79 mm), Itaiçaba (80,4 mm), Itaitinga (122 mm), Porteiras (128 mm), Tauá (152 mm), Caucaia (168 mm) e Icapuí (216 mm), a maior do Estado em 2017.
Mesmo com o quadro animador, Alcides Duarte, coordenador geral do Fórum Cearense dos Comitês de Bacias Hidrográficas, pede cautela. “É cedo para se afirmar algo. Seguimos em alerta e preocupados”, afirmou. Ele ressalta ainda que grande parte das precipitações atingiu a região litorânea. “Onde tem que chover, nos açudes, choveu quantidades insignificantes, que vão embora só com a evaporação”, alertou.
Para esta semana, os meteorologistas indicam que o sistema responsável pelas chuvas deve continuar exercendo influência. O tempo nublado seguido de chuvas permanecerá em todas as regiões do Estado.
Mais
137 dos 153 reservatórios (89,5%) estão operando com menos de 30% da capacidade.
48 açudes estão com níveis no volume morto e outros 38 estão secos.