Confrontos em Paris podem influenciar eleições presidenciais da França

Se a polícia não for capaz de reprimir os confrontos nos subúrbios de Paris, é provável que a dinâmica da campanha eleitoral presidencial se altere, declarou o jornalista Thomas Guenole à Sputnik França.

Carro em chamas durante protestos em Bobigny, subúrbio de Paris - AP

Em entrevista à Sputnik França, Thomas Guenole prevê que ocorram mudanças na dinâmica da campanha eleitoral para a presidência se as pessoas continuarem protestando nos subúrbios de Paris.

A entrevista foi realizada em ambiente de relatos sobre violência continuada em pelo menos 11 comunas dos subúrbios de Paris, incluindo Argenteuil, Clichy-sous-Bois, Nanterre, Drancy e Les Uli.

Casos de vandalismo, bem como ataques contra jornalistas e polícia nessas comunas, resultaram na detenção de 37 pessoas.

Na semana passada, cerca de 2.000 pessoas participaram de um comício depois de agentes policiais terem atacado um rapaz negro de 22 anos, chamado Theo, e o sodomizado com um cassetete no subúrbio de Aulnay-sous-Bois, no norte de Paris, informa The Independent.

A multidão realizou uma manifestação de apoio a Théo, mas foi dispersa pela polícia que usou gás lacrimogêneo depois de alguns manifestantes terem começado atacando a polícia com objetos diversos e incendiado vários carros.

Os arrestos tiveram lugar por todo o departamento de Seine-Saint-Denis, que tem Bobigny como centro administrativo, informou a French Europe 1. Foi referido que, quando a manifestação terminou em Bobigny, tiveram lugar vários incidentes na cidade e nas comunas vizinhas.

Falando à Sputnik França, Thomas Guenole avisou que são prováveis consequências graves se os protestos continuarem fora da capital francesa. Conforme as palavras dele, Paris e seus subúrbios podem enfrentar mais violência "a qualquer momento".

"Se os confrontos continuarem, 'as pessoas dos subúrbios' se tornarão o tema principal da campanha eleitoral, com todas suas implicações, incluindo exigências de mais segurança e a difamação dos jovens que moram nos subúrbios. Então vamos fechar os olhos aos problemas concretos e urgentes ligados, em particular, à política policial seguida nos últimos 15 anos na França," afirmou.

Quanto a essa política, o jornalista criticou a decisão de abolir a polícia de proximidade na França, o que, segundo disse ele, deixou a polícia nos subúrbios desapoiada.

Guenole também protestou contra o estabelecimento de perfis raciais e étnicos durante o controle de identidade.

"Ela [polícia] a está conduzindo isso para aumentar a estatística e deter mais imigrantes ilegais. Realizando tais controlos de identidade em massa, ela provoca tensão entre a polícia e os jovens dos subúrbios que, regra geral, não são brancos. É um problema que é silenciado", acrescentou.

Por último, mas não menos importante, a execução da política de recursos humanos na polícia francesa se torna cada vez mais caótica, conforme o jornalista.

Entretanto, o criminologista francês Xavier Raufer, por sua vez, declarou à Sputnik que o ministro do Interior da França Bernard Cazeneuve é o responsável pela situação atual.

"Tenho reiteradamente afirmado que a equipe de Bernard Cazeneuve, e a mídia controlada pelo Estado, simplesmente negam o fato evidente e a cada dia adicionam uma nova camada de maquiagem ao cadáver da segurança na França, que já está se decompondo.

Entretanto, fazendo investigação, o sociólogo Gerard Mauger destacou não esperar que os confrontos correntes degenerem em violência de grande escala, como a que ocorreu nos subúrbios de Paris e outras cidades em novembro de 2005. Durante os protestos que tiveram lugar há 12 anos, muitos carros e edifícios públicos foram danificados por árabes étnicos e outros muçulmanos, o que foi provocado por um incidente com dois rapazes que foram eletrocutados quando tentavam se esconder em uma subestação elétrica para escapar à polícia.