Camilo Torres, guerrilheiro de paz e de amor
Sua trajetória de intelectual, sociólogo e guerrilheiro foi breve como sua vida. Em 15 de fevereiro de 1966 as montanhas Colombianas o acolheram em seu ventre.
Por Maister F. da Silva*
Publicado 15/02/2017 17:03
Vencemos, comemoram as forças de repressão, matamos o sacristão da guerrilha, o padre subversivo que carregava na mochila, a cruz e a bíblia, no ombro o fuzil. Para nós, o povo Latino Americano, nascia um santo, desses para o qual não se acendem velas com pedidos lamuriosos, mas se cantam musicas dançantes que enaltecem as lutas de libertação, os embates desse povo que teima em não se render às nações imperialistas e esses estranhos homens e mulheres que optam por se manter intrépidos ao lado do povo pobre, mesmo que tal opção lhes custe dois dos bens mais preciosos ao ser humano, a liberdade ou a própria vida.
Ele que falava que a voz do povo falava mais que a sua própria, não imaginava que desde aquele dia falaria pela voz de todo o povo que luta por liberdade e transformação social, todos aqueles para quem destinou suas cartas. Estudantes, camponeses, presos políticos, trabalhadores urbanos, comunistas, cristãos, desempregados, todos o trazemos junto quando carregamos nossas bandeiras e lutamos pelo nosso sonho coletivo de paz, amor e esperança.
Camilo Torres tornou-se padre por amor aos pobres, como assim compreendia ser a missão da igreja cristã, uma igreja comprometida com a luta permanente pela melhoria da qualidade de vida do povo, servidora da humanidade, centrada no amor ao próximo. Por este amor, cristão, sobretudo, foi forçado a renunciar ao sacerdócio, continuou padre, no entanto, dedicando-se inteiramente a ação revolucionária, primeiro semeando entre a juventude universitária e o trabalho pastoral, a urgência da mudança das estruturas de seu país, a Colômbia, uma revolução econômica, social e politica, capaz de abrigar em seu seio todo o povo colombiano, distribuir a riqueza, repartir a terra, rural e urbana, e extirpar a elite de rapina aliada desde sempre ao império norte-americano, posteriormente embrenhando-se junto aos camponeses na guerrilha de fato, por acaso do destino, falta de experiência em combate, um chamado de deus, talvez, não importa, caiu no primeiro combate.
E por que justamente nesse 15 de fevereiro, evocar novamente Camilo? Seria porque, todo o 15 de fevereiro ele renasce em alguma montanha da Colômbia, da América Latina, ou onde houver povo explorado lutando contra os grilhões do imperialismo. Seria pelo seu sorriso, eternizado na foto mítica, vestido com o uniforme do Exército de Libertação Nacional e fuzil no ombro. Não, por nenhuma dessas razões, é pura e simplesmente para não nos deixar esquecer que tal como falava Camilo, na América Latina, e no Brasil, há uma causa de privilégios e concentração e uma causa de luta e liberdade, é necessário saber de que lado se está. O golpe político no Brasil, referendado pela classe média batedora de panelas, afinal não salvou o país, ao contrário levou-nos a uma frustração nacional, tal frustração pode se transformar em uma rebelião do povo, será então necessário milhares de Camilos a conduzir a revolta guiados por amor e compromisso com a unidade da classe, a estruturar o novo programa social, econômico e politico, capaz de dar resposta aos anseios do povo trabalhador. Estamos sofrendo uma série de violências, físicas por parte da polícia quando saímos para a rua nos manifestar, num claro aumento generalizado da repressão e a violenta perda de direitos adquiridos.
Camilo Torres Restrepo é desses, que se mantém intrépido ao lado do povo pobre latino americano, se mantém ao lado de nós brasileiros sem-terra, pequenos agricultores, estudantes universitários, comunistas, cristãos, desempregados, trabalhadores das fábricas, presos políticos, mulheres exploradas/violadas/violentadas etc. Morreu por seu povo, de fuzil na mão, munido de amor e sonhos de paz, pois como a bela frase que alguém um dia eternizou, não sei quem, também não vem ao caso, “só preza pela paz, quem um dia viveu a guerra”.