O desmonte do Banco do Brasil é o desmonte do Brasil

Uma nação é, de forma geral, constituída por um povo, um território, uma língua e um governo comuns. Isto obviamente não basta, a existência da nação exige também a adesão de seus membros, um sentimento de pertença a nacionalidade. As pessoas devem se sentir parte da nação ou ela não existirá, resumindo-se então a uma infinidade de interesses particulares em conflito e concorrência permanentes.

Por Decio Lima*

Banco do Brasil Maranhão - Foto: Zeca Soares/G1

Esse pertencimento se fundamenta, em grande medida, em uma identidade compartilhada entre todos. Tal identidade é articulada por elementos diversos, entre eles história, tradições, hábitos, religião e interesses comuns, elementos que fortalecem a sensação de pertencer a uma experiência coesa e única a qual chamamos de lar.

No Brasil a identidade da nação é estruturada em uma rede complexa de elementos que nos sugerem que compartilhamos um projeto e um destino comuns, elementos que mesmo em conjunturas históricas e momentos políticos diferentes nos mantém a crença de que somos um país e que os laços que nos ligam estipulam o desejo pelo bem comum como nosso sentimento primordial.

A língua portuguesa, a religiosidade, o futebol e o carnaval são exemplos emblemáticos de tais elementos de promoção da coesão nacional. Algumas instituições, por conta de sua relevância histórica e social, estão nesta lista, encarnam, em si mesmas, uma parte da identidade da nação. O Banco do Brasil é, sem sombra de dúvida, uma destas instituições. Primeiro banco do país e mais antigo que o Estado brasileiro, o BB se afirmou, no decorrer de dois séculos, como uma das instituições mais importantes da história brasileira e como elemento indissociável da nação.

Fundado em 1808 e colocado sob gestão estatal desde 1905 o BB cumpriu, e cumpre, tarefas fundamentais no desenvolvimento do Brasil. Como fomentador da economia desde a fundação da república e como ferramenta de contenção das ambições dos bancos privados prestou, e presta, serviços inestimáveis ao Brasil e a seu povo. Priorizando a ideia do bem comum dos membros da nação, algo impensável para o setor bancário privado, de capital estrangeiro, ávido por lucros a qualquer preço e de qualquer forma, o BB conseguiu ao mesmo tempo ajudar o Brasil a se construir como uma nação moderna e se tornar uma instituição bancária próspera e rentável. Recentemente levando serviços bancários a comunidades desassistidas pelos bancos privados, ampliando e barateando o crédito para o setor rural, a construção civil, o mercado de automóveis e as pequenas e médias empresas, o BB foi fundamental para o salto civilizacional dado nos governos Lula e Dilma e no amortecimento de parte do choque da crise internacional do capitalismo na economia brasileira.

Esse comprometimento com a nação e com um projeto de civilização, que marca a História do Banco é inaceitável para o governo ilegítimo hora instalado no comando do Estado. Sem projeto de país, títeres de desejos privados e motivados apenas pela ambição desenfreada e pelo egoísmo mais ordinário, os que tomaram o governo de assalto deram início ao saque e desmonte do Banco do Brasil. O fechamento de mais de 450 postos de atendimento e um plano de demissão voluntária que pretende retirar quase dezoito mil trabalhadores do quadro são os primeiros, e já devastadores, passos para a destruição de uma instituição bancária com compromisso social.

Na mesma ação em que dilapida um patrimônio nacional, exclui do acesso aos serviços bancários uma multidão de brasileiros e arruína uma ferramenta fundamental para a retomada do crescimento, o governo ilegítimo, coerente com seu liberalismo perverso, promove a abertura de espaço para que seus sócios, os bancos privados e o capital rentista, possam saquear o país, praticando impunemente, e sem mediações, taxas extorsivas e juros abusivos. O desmonte do Banco do Brasil, que lucrou 14,4 bilhões no último exercício, é feito a título de economia e de mentiroso e perverso ajuste fiscal, que faria bem melhor se combatesse a sonegação, ação capaz de trazer 500 bilhões, subtraídos anualmente pelo setor privado, aos cofres públicos.

Estamos assim sofrendo um duplo e profundo prejuízo, ao mesmo tempo em que rapina uma das instituições fundamentais da economia brasileira o governo ilegítimo desmonta um dos elementos constitutivos de nossa própria identidade como nação, tornando o Brasil mais pobre, menor e menos coeso.

*Líder da oposição no Congresso Nacional