O México está vendo seus jornalistas morrerem
Centenas de profissionais de imprensa saem às ruas no México essa semana após o assassinato da jornalista Miroslava Breach Velducea, de 54 anos, correspondente regional do jornal La Jornada, de Chihuahua, capital homônima do maior dos 31 estados do país.
Por Luis Rodolfo Lopes
Publicado 03/04/2017 16:20

A jornalista levou três tiros na cabeça na última semana enquanto saía de casa para levar o filho à escola e, segundo o noticiário mexicano, o assassino deixou um cartaz com ameaças no local do crime. Velducea escrevia sobre casos de corrupção política, feminicídios, abusos de direitos humanos, violações às comunidades indígenas e sobre a violência dos cartéis de narcotraficantes.
Além dela, nas últimas semanas foram assassinados outros dois repórteres: Ricardo Monlui Cabrera, de 57 anos, de Veracruz, no sudeste mexicano, e Cecílio Pineda, de 39 anos, de Guerrero, na região sul.
O assassinato de três comunicadores em menos de um mês demonstra a dificuldade das instituições mexicanas em resolver a questão da violência contra a imprensa. Somente no ano passado, foram 11 profissionais de imprensa assassinados e outros 426 casos de agressões contra jornalistas registradas durante o exercício de suas atividades. Segundo um levantamento realizado pela Universidade Iberoamericana, 40% dos profissionais de imprensa foram vítimas de ameaças e outras intimidações por parte do crime organizado e também de setores do funcionalismo público.
De acordo com a Artículo 19, organização que defende a liberdade de imprensa no México, os 99.75% de impunidade em casos envolvendo a morte de jornalistas são um claro incentivo para que estes crimes sigam acontecendo. Desde o ano 2000, são 103 mortes envolvendo jornalistas e outros 23 profissionais encontram-se desaparecidos atualmente. Números que colocam o país como o mais perigoso das Américas para o exercício da profissão e instauram um clima de autocensura em todo o setor.
Mobilização nas redes
Após a onda de assassinatos do mês de março, diversos profissionais de imprensa se mobilizam pelas redes sociais com a palavra-chave #YaBastadeBalas (Chega de balas). Inúmeras organizações de defesa da liberdade de expressão, entre as quais a Anistia Internacional, exigiram medidas eficazes por parte do Governo Mexicano visando melhorar as condições de segurança e proteção dos profissionais.