“Se as drogas fossem regulamentadas, Pablo Escobar não teria existido”

“Se as drogas fossem regulamentadas, Pablo Escobar não teria existido e nós não estaríamos conversando. Ele até poderia ter se tornado um criminoso, mas não tão poderoso e destrutivo como foi. Tudo isso aconteceu porque existe a proibição das drogas”. Essa é a conclusão do arquiteto e escritor Juan Pablo Escobar (que mudou de nome para Juan Sebástian Marroquín), filho do narcotraficante Pablo Escobar, que vê a proibição como uma fábrica de criminosos e violência generalizada.

Por Caroline Apple

Juan Pablo Escobar - Divulgação

Juan afirma que vê os países da América Latina enfrentando problemas muito semelhantes com a mesma raiz: a falta de regularização das drogas. Ele evita usar o termo “legalização”, porque, em sua opinião, comprar drogas é como “comprar pizza na esquina”.

“Todos na América Latina têm as mesmas histórias de grande violência e corrupção, que são consequências naturais do proibicionismo. Precisamos regularizar o uso das drogas e não apenas legalizar, porque isso elas já são. Com facilidade, qualquer pessoa, até mesmo uma criança, tem acesso a todos os tipos de drogas”.

O debate sobre a descriminalização das drogas no Brasil segue a passos lentos e o processo que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) deve demorar para voltar a ser discutido, uma vez que estava sob a responsabilidade do ex-ministro Teori Zavascki, morto em um acidente aéreo em janeiro deste ano.

‎Enquanto nada é oficializado, as discussões seguem na sociedade entre aqueles que não admitem a ideia da descriminalização das drogas e aqueles que querem ter a liberdade de usá-las de forma recreativa ou como medicamento. Porém, enquanto discussões com laicidade duvidosa acontecem por toda a América Latina, o tráfico de drogas segue produzindo não apenas viciados, mas também grandes chefes do crime organizado e alimentando a violência, principalmente nos morros e periferias.

“Perdemos a luta contra o narcotráfico. A natureza do proibicionismo é dar poder econômico e militar às organizações criminosas que administram os negócios. Proibir é um ato de irresponsabilidade do Estado, que entrega aos delinquentes um grande negócio que os tornam muito ricos e poderosos”, afirmou Juan.

A falida guerra contra as drogas segue fazendo vítimas num ciclo vicioso e superlotado os presídios brasileiros. A alteração da Lei das Drogas, em 2006, que determinou a distinção entre usuários e traficantes e terminou por piorar o quadro do sistema carcerário. Juan afirma que os resultados falidos do proibicionismo e suas consequências em todos os setores da sociedade são visíveis e precisam ser resolvidos.

“O Estado deveria assumir a responsabilidade de controle do negócio e regularizar todas as substâncias, para que não se criem máfias e para poder educar as pessoas sobre o uso consciente. Isso é mais efetivo do que sair com tanques de guerra nas ruas, porque não importa se amanhã matem todos os narcotraficantes do planeta, porque, no dia seguinte, a droga continuará chegando a todos os destinos. Se quer violência, proíba, se quer paz, regularize”.

O filho de Pablo Escobar usa como exemplo a arrecadação bilionária de impostos do estado de Louisiana (Estados Unidos), que regularizou o uso da maconha para fins recreativos. Para Juan, na dúvida sobre se deve ou não regularizar as drogas, os países devem fazer uma análise.

“Esse dinheiro arrecadado de impostos com a regularização das drogas sempre estará disponível. Se proibirmos, deixaremos esse dinheiro para o crime organizado, se regularizarmos, esse dinheiro vai para a sociedade para fins pacíficos, como transformar a cultura do consumo de drogas. A pergunta é: na mão de quem você quer deixar esse dinheiro?”