Denúncia contra Temer atropela planos do mercado e freia reformas

“Há um conluio orquestrado por uma onda conservadora que resultou na tomada do governo de assalto com o objetivo de penalizar a classe trabalhadora. Isso é fato”, declarou ao Portal Vermelho o presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo. O dirigente analisou o cenário de denúncias envolvendo o presidente golpista Michel Temer, que foi gravado concordando com pagamento a Eduardo Cunha para que o deputado não delate na Lava Jato.

Por Railídia Carvalho  

Adilson Araújo

Michel Temer disse em pronunciamento oficial nesta quinta-feira (18) que não renuncia e colocou o ministério para dar ar de normalidade às pautas do governo no Congresso. A equipe econômica continua martelando nos supostos sinais de recuperação da economia, no entanto, as denúncias abalaram o discurso governista.

“Essas evidências que foram amplamente divulgadas pela mídia contra o presidente ilegítimo serviram, de alguma forma, para frear essa ofensiva conservadora que vinha prevalecendo no interior do Congresso Nacional, sobretudo na Câmara dos Deputados, com a aprovação da reforma trabalhista, terceirização e relatório da reforma da Previdência na Comissão especial”, concluiu Adilson.

Interesses do mercado

O presidente da CTB comentou também a hipótese ventilada sobre o nome de Henrique Meirelles, atual ministro da Fazenda, para substituir Temer em caso de renúncia. “Sabemos que isso tudo tem como justificativa uma eleição indireta. Não é novidade essa intenção do Meirelles roubar a cena o que seria mais trágico ainda para o país”.

Em nota divulgada nesta quinta-feira, cinco das principais centrais sindicais brasileiras, entre elas CTB, Força Sindical e União Geral dos Trabalhadores (UGT), defenderam a busca de eleições democráticas.

Adilson destacou que o mercado criou uma opinião tendenciosa de retomada econômica para preservar os próprios interesses. Blindar a equipe econômica faz parte desse movimento.

Fraude estatística

Segundo o economista Guilherme Mello, em entrevista concedida ao Portal Vermelho, o país piorou “para quem precisa de trabalho, de renda e crédito”.Guilherme afirmou que o Brasil melhorou para os bancos e investidores financeiros.

“Quando você vê nos jornais a avaliação de que o Brasil está melhorando, é muito baseada na opinião dessas pessoas”. De outro lado, foram penalizados pela política de Temer, “trabalhadores, pobres e classe média”.

Ele chamou de “fraude estatística” o aumento da atividade econômica alardeado por Meirelles e atribuiu os números a uma mudança de metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na contramão do crescimento

Adilson afirmou que as medidas adotados por Temer não conseguiram retomar a economia. “Vai resolver a crise liberando conta do FGTS? Sem contar que devido a calotes de mal empregadores, que não depositaram o que deviam, muitos trabalhadores não estão conseguindo receber”, denunciou.

Para o dirigente, o governo golpista também fracassou em diminuir as taxas de juros. “Todos os países que estão enfrentando a gravidade da crise econômica optaram por colocar os juros em patamar zero enquanto a nossa taxa é uma das maiores do mundo. É por isso que estamos passando por um drama na indústria. Esse governo lesa-pátria não está preocupado com as gerações futuras”.

A indústria da transformação amarga hoje 7.7% de participação no Produto Interno Bruto (PIB) quando chegou a ter 30% de participação no PIB. Em um ano de governo Temer, o número de desempregados saiu de 11,4 milhões (11,2%) para 14,2 milhões (13,7%).

Ao contrário do discurso oficial, o setor de serviços teve redução de 2,3%, o maior recuo da série, iniciada em 2012. A produção industrial também caiu 1,8% e o comércio varejista com queda de 1,9% nas vendas atingiu o pior resultado em 14 anos.

Reformas suspensas

“O país chegou a uma situação de ingovernabilidade e a prova inconteste disso é que até mesmo o Ferraço e o Arthur Maia suspenderam a tramitação das reformas da previdência e trabalhista afirmando que não existe condição alguma, diante da instabilidade e do agravamento da crise, de colocar essas matérias em votação”.

Ricardo Ferraço (PSDB-ES) é o relator da reforma trabalhista nas Comissões de Assuntos Econômicos e Assuntos Sociais do Senado. Nesta quinta, ele divulgou que os trabalhos serão suspensos temporariamente. A decisão de suspender o trâmite foi adotada também pelo relator da reforma da previdência, Arthur Maia (PPS-BA).

100 mil em Brasília 

No dia 24 de maio as centrais sindicais brasileiras unificadas realizam marcha a Brasília contra o desmonte da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e contra a reforma da Previdência. De acordo com Adilson, ficou claro para as entidades e também para o povo que o governo ilegítimo de Temer não tem como se sustentar e que a saída é a frente ampla para debater saídas para o país sair da crise.

“Vai ficando claro que o custo da crise estava recaindo sobre os ombros do trabalhador. Com as denúncias graves anunciadas me parece que o povo vai tendo a noção de que não podemos pagar o pato. As alternativas passam pela construção da frente ampla em que as forças progressistas e democráticas devem apresentar uma agenda para o país. E tudo isso passa pelas eleições diretas”, finalizou.

A expectativa das centrais e frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo é reunir na marcha de Brasília 100 mil pessoas. A CTB confirmou 300 ônibus com trabalhadores vindo de todos os estados do Brasil. A Força Sindical levará 500 ônibus para a capital federal enquanto a CUT prometeu 5 mil sindicalistas participando da Marcha.