Aliados de Temer já admitem que será difícil barrar denúncia na Câmara

Para tentar se manter no poder, Michel Temer utiliza das mesmas cartas que o levou ao governo, no entanto, a situação que ele enfrenta agora é completamente diferente. Com uma rejeição recorde (84% segundo pesquisa do Instituto Ipsos) e mergulhando em denúncias, o governo não conta com a base aliada e enfraquecido, não tem força para pressionar por apoio.

michel temer - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O entra e sai no Palácio do Planalto é intenso. A discussão gira em torno da estratégia para barrar a denúncia da PGR, que chegou à Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (29).

De acordo com a colunista do G1, Andréa Sadi, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), teria dito a Temer que o ambiente para rejeitar a denúncia por corrupção passiva, como quer o presidente, é "difícil" e ainda não está garantido, como ventilam os ministros do governo.

Os líderes do governo não escodem os métodos utilizados para tentar salvar o governo. Segundo Darcisio Perondi (PMDB-RS), disse em entrevista que os parlamentares fiéis ao governo terão tratamento generoso e os infiéis não.

"Vai perder os cargos que o seu partido nomeou na base deste deputado. O governo vai usar os seus instrumentos de orçamento que tem dos programas do governo na base do deputado", confessou o deputado.

Diante dessa expectativa, a regra basilar do mercado, da oferta e demanda está em pólos invertidos. Isso porque os líderes do partidos que oficialmente dizem que apoiam Temer, esperam que o governo atenda suas expectativas nas bases. No entanto, estão avaliando o desgaste e pressão, por conta do voto ser nominal, o que os preocupa num ano pré-eleitoral.

Ainda de acordo com as fontes do governo citadas pela colunista do G1, Temer foi advertido que não pode descuidar da base, pois foi exatamente isso que levou a queda da presidenta Dilma. Ao deixar o governo, a presidenta reforçou que não aceitou as chantagens para permanecer no governo.

Os problemas de Temer começam pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ0, Rodrigo Pacheco (PMDB-MS). Ele será o responsável por decidir quem será o relator da denúncia feita por Rodrigo Janot.

Depois de ignorar as reivindicações de Pacheco, o governo agora é só agrados e resolveu usar a presidência de Furnas como moeda de troca. Trata-se de uma demanda antiga: a troca do presidente de Furnas, com a saída de Ricardo Medeiros, e a entrada de Julio Cesar Andrade. O deputado garante que não vai pautar suas decisões pelo gesto de Temer.

Para agradar Pacheco, Temer desagradou o ministro das Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, que está bancando a permanência no governo mesmo contrariando a decisão do seu partido o PSB, que desembarcou da nau golpista.

Além disso, nos bastidores a informação é de que o agrado a Pacheco não foi suficiente para assegurar a estratégia do governo Temer, que ainda enfrenta dificuldades para garantir que a maioria dos integrantes da CCJ vote contra a denúncia da PGR.

A bancada do PSDB foi a primeira a pular fora do governo assim que foram divulgados trechos das gravações das conversas entre o empresário Joesley Batista e Temer. A sigla tem sete deputados na comissão, sendo que apenas um está disposto a votar a favor de Temer.

No PSD a coisa também não está tão fácil. Dos cinco parlamentares, três votam com Temer, sendo que a perspectiva é de que esse número vai reduzir. Até mesmo no PMDB o governo já encontra dificuldades.

A pressão agora é pela indicação do relator. O governo cogita nomes como do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) ou José Fogaça (PMDB-RS). Mas o jogo ainda está sendo jogado.