Jogador que dá o sangue. Literalmente
Jogador/a raçudo/a costuma ter muito valor para as/os torcedoras/es. Mesmo que não sejam os mais habilidosos ou artilheiros do time, caem nas graças da torcida e viram ídolos. Sobre eles, diz-se que dão o sangue pelo clube. E alguns dão mesmo.
Penélope Toledo*
Publicado 11/07/2017 20:54
O santista Copete brilhou na vitória sobre o São Paulo. Marcou três gols, foi decisivo e comandou os meninos da Vila. O que mais impressionou, porém, não foram os tentos ou a garra e sim as cicatrizes que exibiu ao levantar a camisa. Copete jogou com feridas na barriga decorrentes de um acidente doméstico e chegou a sangrar durante o jogo.
No rival Corinthians em 2011, o goleiro Júlio César sofreu uma luxação no dedo, mas mesmo exibindo expressões de dor no rosto, permaneceu em campo para evitar que um jogador de linha fosse para o gol. Situação análoga à do alemão Neuer e do espanhol Casillas, que improvisaram uma luva de quatro dedos para poderem jogar com esparadrapo no dedo.
Neuer, aliás, tornou a jogar no sacrifício recentemente, quando terminou a partida contra o Real Madrid pelas quartas de final da Liga dos Campeões após ter fraturado o pé durante a prorrogação.
As mulheres também são duras na queda. Marta e Fabi Simões conquistaram o tetracampeonato do Torneio Cidade de Brasília em 2013 com luxações e sentindo dores. E a jogadora de rúgbi Georgia Page, da Austrália, ficou conhecida como a “deusa da guerra” por jogar com o nariz sangrando em um campeonato universitário. Sua imagem circulou pela web e ela aproveitou a fama para promover o rúgbi feminino.
Em tempos de “chinelinhos” e “cai-cais”…
Obviamente jogador/a ferida/o tem que receber pronto atendimento médico e ser preservado/a para se recuperar plenamente. Seria insano defender que alguém trabalhe em condições desumanas, exploratórias e/ou insalubres. Não adianta ajudar o time e prejudicar a si mesmo.
Mas não deixa de contrastar com o futebol mercantilizado, em que o jogador está em campo unicamente para ganhar dinheiro e pouco se identifica com o clube e sua torcida, pouco se dedica a eles, pouco sente o sangue ferver tanto que lhe anestesia todos os sentidos.
O que não falta no futebol moderno é jogador “chinelinho” – que sempre tem uma desculpa para não entrar em campo – e jogador “cai-cai” – que sempre dá um jeito de sair dele.
É, mas este tipinho não engana a torcida. A galera sempre vai saber reconhecer e aplaudir aqueles que se entregam e jogam com verdade. Pode a diretoria do clube ou a imprensa tentar construir falsos ídolos, mas não adianta, não é nome, status ou fama que garantem um lugar no peito do/a torcedor/a. Para conquistar o coração da massa por detrás do alambrado, só mesmo dando o sangue – no sentido figurado, claro. Ou não.