Publicado 14/07/2017 19:31
Aquele livro foi um passo importante para o conhecimento da classe operária: como é que as trabalhadoras lêem romances, fotonovelas e outras leituras a que tinham acesso?
Uma visão, tradicional mesmo em ambientes de esquerda, temia que eram leitoras passivas, que podiam ter suas consciências “contaminadas” por leituras que lhes impunham desvios favoráveis às ideias das classes dominantes.
Eclea, que pesquisou mais de 50 operárias e colheu suas impressões de leitura, mostrou que não é bem assim. Sagazes, aquelas operárias sabiam muito bem que aquilo que liam era ficção que nem sempre coincidia com as limitações que a vida lhes impunha, mas as distraia das adversidades.
As operárias não se enganavam com a ficção! Sua leitura não era passiva, como muitos temiam. Este foi o ensinamento fundamental daquele livro seminal.
Na útlima segunda-feira (10) Eclea Bosi deixou de viver. E a luta pela defesa da memória operária e popular ficou mais pobre!
Sua carreira de intelectual, psicóloga e professora foi marcada cada vez mais pela defesa e entendimento da memória daqueles que estão nas posições sociais mais baixas – os mais pobres, trabalhadores, de renda mais baixa, e principalmente os idosos, sobre os quais escreveu livros fundamentais, como Memória e Sociedade – Lembranças de Velhos (1994). Na USP, foi a criadora, em 1994, do programa Universidade Aberta à Terceira Idade, para atender aqueles que tivessem mais de 60 anos de idade, e hoje atende 9 mil pessoas todo ano.
Intelectual refinada, era uma mulher de vida simples, preocupada em plantar árvores frutíferas nas casas onde morou. "A vida é um pouco isso, plantar árvores frutíferas, pedindo a Deus que alguém esteja lá depois saboreando os frutos."
Eclea Bosi deixou muitos frutos intelectuais também, um legado que ajuda a entender como é que os trabalhadores compreendem sua própria vida. Um legado essencial!