Grito 2017: Defesa da soberania nacional e direitos marca o ano

A reação à entrega do patrimônio nacional e em defesa dos direitos da população brasileira precisa vir das ruas, afirmou Ari Alberti, da coordenação nacional do 23º Grito dos Excluídos. Nesta quinta-feira, 7 de setembro, junto à festa oficial da Semana da Pátria serão realizados protestos pelo país em defesa dos direitos e da democracia. “É uma atividade nacional com repercussão internacional que condena o golpe e luta contra a violação dos direitos”, completou Ari.

Por Railídia Carvalho

Grito dos excluidos em Bela Vista - Grito dos Excluidos

Segundo ele, o Grito acontece para denunciar que não estão levando em conta a opinião do povo. “Isso não vai mudar se a sociedade não abrir os olhos e não se juntar para lutar. Uma das coisas que o Grito convoca é que ela não fique de plateia vendo o desfile. Tem que descer da arquibancada e ir para a rua”, enfatizou o coordenador.

Com forte repercussão na semana da Pátria, o Grito realiza atividades durante todo o ano. São rodas de conversa, seminários, marchas, oficinas, encontros, diversas formas de construção e execução das atividades. Segundo Ari, durante a preparação para os atos deste ano foi identificado um alto nível de indignação entre movimentos e comunidades locais.

Indignação

“Não é à toa a indignação. Estão dilapidando o patrimônio público sem dar a mínima bola para a sociedade. O caso da Renca foi tão escandaloso que provocou a ira mundial. O governo teve que voltar atrás porque várias camadas da sociedade se revoltaram”, exemplificou Ari (foto).

Temer publicou decreto que extinguia a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca) na Amazônia mas teve que suspender por 120 dias após a repercussão negativa. Especialistas afirmam que estratégia do governo é “cortina de fumaça” para diminuir pressão.

Na agenda da privatização estão ainda Petrobras, Correios e Eletrobras. Além do nível federal, as privatizações tem na mira companhias estatais de saneamento básico.

“Para um governo conceder a riqueza que está no subsolo teria que ter consulta, referendum, abaixo-assinado, plebiscito para consultar o povo. Se não há isso resta ao povo se reunir e lutar para garantir a democracia e a soberania nacional”, opinou Ari.

A luta pela soberania nacional não poderia ter visibilidade em melhor data do que na Semana da Pátria, comentou Ari. “O grito quer dar sua contribuição no sentido de ajudar a despertar a consciência do povo que está mais à margem. Mostrar a importância da luta pela soberania nacional, pelos direitos. Fazer um contraponto aos carros, cavaleiros e manifestar que não estamos contentes com o rumo que o país está seguindo. É uma luta permanente”, destacou Ari.

Violência

Assim como a indignação tem sido comum nos relatos de norte a sul do país, as articulações em torno do Grito 2017 guardam também muitas histórias de violência nas mais diversas formas. “Diversos articuladores contam de ações de repressão dos agentes de segurança pública em diversas cidades”. Na opinião dele, os governantes e o estado brasileiro quer resolver o problema da miséria, da pobreza como caso de polícia.

“A falta de democracia e o golpe geram a violência. Não é resolvendo a crise do capital que vai resolver o problema do povo. Cede tudo ao capita nacional e internacional e vai cabresteando o povo e se ele não se submete você reprime”, indignou-se Ari.

No Grito 2016 aconteceram casos de abuso policial em Montes Claros (MG) em que a polícia imobilizou uma liderança indígena usando de violência. Também no Recife foram registrados incidentes protagonizados pela polícia. “As atividades são atos pacíficos na luta por direitos. A luta ensina. É um avanço na cabeça da pessoa perceber que faz parte de um processo. É revolucionário”, concluiu Ari.

Para ele, o caldo de resistência criado pela greve geral de 28 de abril, os atos contra as reformas trabalhista e da Previdência Social no primeiro semestre criaram um caldo de resistência. “Não estamos parados. Temos muitas lutas, a dificuldade é encontrar o rumo para que essas lutas possam ir se somando. Talvez esse seja um desafio dos movimentos. Tem um ditado que diz: pra quem não tem rumo não tem vento que ajude”.

“O caminho não vai ser um negócio rápido. Vai ter que ter paciência histórica. A mudança tem que ser construída e sustentada. É construir a democracia a partir de casa, da rua, do trabalho. Criar um hábito, uma cultura da democracia. São pequenos gestos que mostram que é possível fazer”, sustentou o coordenador do Grito.

Lutas populares

Ari participou de todas as edições do Grito dos Excluídos desde 1995, quando foram registrados 170 atividades em todo o Brasil. Neste ano, a maioria dos Estados confirmou a realização do Grito com exceção do Acre e Tocantins. No Ceará, Amapá, Pará e Paraná, entre outros estados, a atividade acontecerá para além das capitais.

“O Grito tem uma importância fundamental para as lutas populares no Brasil. É um avanço termos atualmente atividade em praticamente todo o território nacional. Tem muitos movimentos que não participam do processo de articulação do Grito mas no sete de setembro estão presentes. São pequenos avanços que mostram que é possível construir um projeto diferente de sociedade”, analisou Ari.

Ele se surpreende com o grau de degradação que o Brasil atingiu em um ano. “Sabia que essa forma de tomada do poder traria consequências sérias para a sociedade mas não imaginava tão violenta com um parlamento em sua maioria votando de costas para o povo. Não são representantes dos trabalhadores. São de bancadas do agronegócio, banqueiros. Isso é vergonhoso e é anti-ético. Vê essas notícias de corrupção no governo e depois a Previdência é a culpada de tudo. Parece até piada”, criticou.

A conta fica para os excluídos, os que estão à margem, continuou. “É o trabalhador que paga essa conta não é o empresário, nem os bancos. O povo está tão miserabilizado. Estão tirando o couro do povo para atender ao capital que é insaciável. Esse povo precisa se dar conta disso e com consciência fazer as lutas se quiser mudar. As mudanças não virão de cima para baixo. A nossa luta maior não é o planalto é na planície. É lá que vamos ganhar as batalhas. Nas periferias, na sociedade, no campo, nas ruas”, defendeu.

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