Amorim: Sinto o Brasil incapacitado de promover diálogo com Venezuela

A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara promoveu, na manhã desta quarta-feira (4), audiência pública para tratar da grave situação na qual se encontra a Venezuela. Durante a reunião, foram debatidas formas de auxiliar o país coirmão a superar suas dificuldades e reestabelecer a convivência pacífica.

Por Ana Luiza Bitencourt

Amorim - Richard Silva/PCdoB na Câmara

A Venezuela vem enfrentando uma crise de desafios econômicos e de enfrentamentos para solucionar sua própria soberania. O país recebeu, inclusive, uma absurda ameaça de uso da força vinda do presidente dos Estados Unidos Donald Trump. De acordo com o ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa, embaixador Celso Amorim, convidado para o debate, não está se dando a importância necessária para a ação do norte-americano.

“Em meus anos de vida diplomática, não me recordo de ver algum presidente estadunidense ameaçando um país sul-americano com o uso da força. É gravíssimo. É uma violação da Carta da Nações Unidas, não só do seu espírito, mas do próprio texto que veda o uso da força e a ameaça ao uso dela. O fato em si já justificaria uma reunião extraordinária da Unasul. Mesmo que ele não faça isso de fato, é um incentivo para que outros mais radicais o façam”, justificou Amorim.

A deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), membro da CREDN, também salientou a mudança nas relações da região, advindas da entrada de Trump na presidência. “É alguém que não tem alinhamento claro explícito de que tipo de política quer em termos de hegemonia. As ameaças ganham proporções ainda maiores com o agravamento dos conflitos de fronteira e da ‘política de imigração’ adotada por ele”, defendeu a parlamentar.

Apesar de o povo venezuelano ser o responsável por decidir seu próprio destino, é preciso destacar o papel da nação brasileira na situação do país. Antes de o Brasil ser governado por um presidente ilegítimo, “éramos defensores da cooperação, da convivência, da compreensão dos desafios enfrentados pelos coirmãos, diferente do que ocorre agora”, pontua Jô.

Para o ex-ministro Amorim, é preciso respeitar as decisões da Venezuela, das suas autoridades eleitas, mas o Brasil não pode se omitir: precisa procurar favorecer o diálogo e utilizar meios de persuasão válidos.

“Os problemas profundos daquele país nós não podemos resolver, mas podemos ajudar a encaminhar um diálogo, a permitir que ele vá encontrando suas soluções. O Brasil não tem como se esconder, e o que eu sinto na nossa atual política sul-americana é isso. Sinto o país incapacitado de tomar uma atitude que deveria tomar de diálogo e de promover a reconciliação do povo”, apontou o embaixador.

A relação bilateral entre Brasil e Venezuela foi enaltecida durante o debate por Marcelo Zero, sociólogo e especialista em Relações Internacionais. Ele ressaltou que essa afinidade entre os países é produto de um longo processo histórico “que perpassou os governos de diferentes presidentes e ideologias”.

“A importância da Venezuela para o Brasil e para o Mercosul não tem nada a ver com bolivarianismo ou com afinidades políticas momentâneas, como alguns alegam. É uma questão de estratégia de afirmação dos interesses nacionais do nosso continente. Essa relação precisa ser mantida, fortalecida”, afirma.