Publicado 05/10/2017 14:48 | Editado 04/03/2020 17:15

Vencer a eleição para prefeito em 2016 pode ter sido uma alegria por um lado, eleitoralmente falando, porém, ao analisarmos a conjuntura, não houve na história recente brasileira momento mais difícil para assumir a responsabilidade de ser chefe do executivo municipal. Entre outros fatores, as medidas recessivas adotadas no último período agravaram os efeitos da crise e produziram um “efeito cascata” que atingiu o já combalido orçamento em nível municipal.
Não é nem o caso dos prefeitos fazerem “mais com menos”, porque isso, na realidade, já acontecia. O desafio agora é fazer “muito mais, com quase nada”. Explicando melhor, o que vem por aí é um cenário dantesco. Com a atual crise, naturalmente aumenta a população que necessita de amparo por parte do estado, só que justamente num período onde a estrutura estatal desmorona tendo em vista a queda da arrecadação! O Brasil hoje, socialmente falando, é uma “bomba relógio” que, diga-se de passagem, vai “estourar” nas mãos dos prefeitos.
Sendo assim, o que fazer?
Ninguém é dono da verdade, mas podemos apresentar alguns palpites, sem a pretensão de sermos conclusivos. Entre tantas medidas, talvez seja o caso de gestores municipais se articularem visando pautar outra política econômica para o Brasil, que sobretudo não entregue aproximadamente 50% dos recursos arrecadados com impostos aos bancos, na cobertura dos juros da dívida pública. Não podemos sacrificar a geração de emprego, a produção de riqueza, e até a soberania nacional (ao entregarmos de “mão beijada” setores estratégicos para o particular) em nome do contentamento cego ao mercado. Evidente, que tenhamos bom senso! O Brasil é a 6ª maior economia capitalista do globo terrestre, onde não cabem aventuras. É preciso reconhecer que o mercado financeiro é um marco civilizacional humano, porém, também, que quando o “financeirismo” se sobrepõe à produção material, isso arrefece nossa economia, e regredimos a um capitalismo porco, parasitário e colonizatório. Estando os prefeitos conscientes disso, pode-se iniciar a mudança dessa lógica, de baixo pra cima, a partir de uma perspectiva e demanda municipalista capaz de alcançar o topo do poder central brasileiro.
No mais, é preciso erguer os olhos ao horizonte e perceber o que ocorre no mundo. Parcerias com países como a China podem ser muito interessantes. O país caminha para ser a principal economia do planeta, com mercado atrativo para os produtos brasileiros, e, além disso, disposto a cooperar no setor de tecnologia, que gera empregos de qualidade. Sem falar de Portugal, que saiu da crise sem o uso de medidas de “austeridade” e, ao invés disso, adotou políticas públicas voltadas à promoção do investimento, estímulo ao empreendedorismo, criando um ambiente propício aos negócios e oportunidades.
Por fim, há medidas que podem ser adotadas nas cidades que não implicam necessariamente em maior pressão sobre o orçamento. Democratizar a urbes, ou seja, “abrir” à cidade às pessoas, buscando incentivar a cultura, a ocupação do espaço público, lutar contra as formas de discriminação, e garantir um espaço saudável e seguro para todos, mesmo com as limitações momentâneas oriundas da crise, são políticas públicas plausíveis.