Conferência do PCdoB-CE – Joan Edesson: Uma rosa para os que partiram

“Nosso dever, nossa tarefa, é dar continuidade a essa luta. E lembrar com carinho desses homens e dessas mulheres. E lembrar deles com alegria, mesmo que a dor ainda seja tão grande, mesmo que o espinho ainda esteja cravado em nosso coração e que o nó ainda esteja preso em nossa garganta. Por eles, por elas, continuamos lutando”.

Por *Joan Edesson

Conferência do PCdoB-CE - Joan Edesson: Uma rosa para os que partiram

A revolução se faz com homens e mulheres. Com homens e mulheres que amam, choram, riem, constroem laços de amizade, e que lutam incansavelmente para que, no mundo inteiro, outros homens e mulheres possam ter direito a um mundo novo, a uma sociedade nova.

Esses homens e mulheres lutam, na maioria das vezes, por pessoas que sequer conhecem. Não lutam por alguém especificamente, lutam pela humanidade em geral. O que os move é a confiança de que, coletivamente, braços dados, mãos entrelaçadas, os trabalhadores podem construir uma sociedade nova, um mundo novo; é a confiança de que os trabalhadores podem e irão construir o socialismo.

Ocorre que, humanos, esses homens e mulheres que têm defeitos e virtudes, são finitos. E por mais que doa naqueles que ficam um pouco mais, esses homens e mulheres partem um dia. Nós, que ainda permanecemos por mais tempo, sofremos com a partida desses homens e mulheres.

Sofremos porque fomos seus amigos, porque ombreamos com eles na luta pelo futuro, porque partilhamos com eles dos mesmos sonhos, porque dividimos com eles alegrias e tristezas, porque tantas vezes, junto com eles, sofremos também por outros que haviam partido. Nós sofremos de saudade, quando partem esses homens e mulheres que conviveram e lutaram conosco, lado a lado, e que brindaram à vida conosco tantas vezes.

Nos últimos dois anos nós tivemos algumas grandes perdas. Pessoas partiram do nosso convívio. Não os veremos mais, não os teremos mais ao nosso lado nas batalhas do dia a dia, no papo besta do bar, nas discussões e debates sérios sobre os nossos rumos. Não os veremos mais, partiram para não mais voltar.

Partiu Gilse, o “aço em flor”, a “moça de Minas”, a que não se dobrou e que, como grande que era, jamais perdeu a ternura. Partiu Edson Pereira, veterano combatente das causas populares, permanente abraço aberto para os amigos. Partiu Marcinha, com sua inabalável confiança de que o futuro será melhor para as mulheres. Partiu Expedito, o sonoro bom dia a nos receber e a nos envolver em amizade e camaradagem. Partiu Miguel, que cultivava a crença na luta e na folia, no socialismo e no carnaval. Partiram para não mais regressar. E nos deixaram com nossa dor imensurável, com nossa dor que não tem nome e nem tamanho.

Cada uma dessas partidas levou um tanto de nós, arrancou um pedacinho da nossa alma, tornou mais miúda e mais triste a nossa existência. Cada uma dessas partidas, num momento em que vivemos uma tão grande ameaça à paz, à democracia, aos direitos de homens e mulheres, cada uma dessas partidas tornou ainda mais dura a nossa luta, pois que as lacunas deixadas não se preenchem. Esses homens e mulheres que partiram eram únicos, insubstituíveis.

Por isso choramos tanto quando eles se foram. Por isso choramos até hoje, ao lembrar de cada um deles.

Mas não devemos. Não devemos porque aquilo que motivou cada um desses a viver, a luta que os movia, permanece. Os sonhos que eles sonharam são os mesmos que ainda sonhamos. Nós, que permanecemos mais um pouco antes de nos irmos também, temos o dever, a tarefa, de continuar a luta que esses homens e essas mulheres travaram conosco, ombro a ombro.

Nosso dever, nossa tarefa, é dar continuidade a essa luta. E lembrar com carinho desses homens e dessas mulheres. E lembrar deles com alegria, mesmo que a dor ainda seja tão grande, mesmo que o espinho ainda esteja cravado em nosso coração e que o nó ainda esteja preso em nossa garganta. Por eles, por elas, continuamos lutando.

Por eles, por elas, cultivamos a rosa rubra da revolução, a rosa vermelha do futuro. E diremos, como da nossa tradição, quando se pronunciarem os nomes de Gilse, Edson, Márcia, Expedito e Miguel, quando eles forem nomeados, nós diremos, ainda que embargada a voz, nós diremos: PRESENTE!