Jesualdo Farias: Duas tragédias e uma mensagem

“Dos dois gestos, no mês dedicado ao professor, além da dor profunda, fica uma mensagem em defesa da valorização e do respeito a esta nobre profissão. As memórias de Cancellier e de Heley deveriam mobilizar a sociedade para uma reflexão sobre a importância do professor na construção de um País mais justo e humanitário”.

Por *Jesualdo Farias

Fórum discute piso dos professores

Na semana de 1 a 7 de outubro de 2017, o Brasil assistiu atônito a duas tragédias envolvendo professores e estudantes. No dia 2 de outubro, o Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier, 59 anos, cometeu suicídio, saltando do sexto andar de um shopping em Florianópolis. No dia 5, o vigia noturno Damião Soares Santos, 50 anos, ateou fogo em uma Creche no município de Janaúba, a 547 km de Belo Horizonte, que vitimou pelo menos sete crianças e a Profa. Heley de Abreu Silva Batista, 43 anos, além do próprio vigia. Em uma atitude extrema, movida pela sua missão de cuidar e educar, a Profa. Heley mergulhou nas chamas e entregou a própria vida em troca da possibilidade de minimizar o número de crianças atingidas pelo fogo. Um exemplo de dedicação e apreço àquilo que, no Brasil, muitos ainda não compreendem, tampouco valorizam. Um ato heroico que, apesar de trágico, se revela simbólico a todos os profissionais da educação no mundo. Cancellier, por sua vez, vítima de abuso da justiça, ao ser preso sem o devido processo legal e sofrer toda a sorte de humilhação, impedido até de frequentar os espaços da universidade que conhecia como poucos, lançou-se no abismo, em um gesto político e de extrema coragem, para denunciar com a própria morte a barbárie que avança em nosso País.

Dos dois gestos, no mês dedicado ao professor, além da dor profunda, fica uma mensagem em defesa da valorização e do respeito a esta nobre profissão. As memórias de Cancellier e de Heley deveriam mobilizar a sociedade para uma reflexão sobre a importância do professor na construção de um País mais justo e humanitário. Deveriam também servir de exemplo para que se dedique mais respeito aos mestres e aos trabalhadores da educação em todos os níveis. A Unesco, em seu recente relatório, alerta que a educação precisa ser uma atividade compartilhada entre governos, escolas, professores, pais e atores privados. Somente com a participação de todos, conseguiremos, a partir da educação, consolidar a nossa cidadania.


*Jesualdo Farias é secretário estadual das Cidades e professor titular da UFC

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