Emicida: "Os trabalhadores estão cerceados aqui hoje"
O rapper Emicida foi o último a falar no ato político que substituiu o show previsto para ocorrer na noite desta segunda-feira (30), na Ocupação Povo Sem Medo, do MTST, em São Bernardo do Campo, que reúne cerca de 8 mil famílias, segundo os organizadores.
Publicado 31/10/2017 11:32
Por causa de uma decisão judicial, o show que reuniria o cantor e compositor Caetano Veloso, o rapper Emicida e o cantor Criolo não pôde ser realizado. Mas vários artistas estiveram no local prestando solidariedade ao movimento, assim como parlamentares, como o deputado fluminense Marcelo Freixo (Psol) e o vereador paulistano Eduardo Suplicy (PT).
“Os trabalhadores estão cerceados aqui hoje”, disse Emicida. "Eu queria dar um rasante aqui numa situação menos tensa, menos caótica", acrescentou, destacando a força do movimento. "É um caso clássico de ‘piores problemas, melhores pessoas’”. Ele disse achar absurda a situação de pessoas que estão lutando por “um direito que está escrito na Constituição, que é um teto sobre a cabeça”.
“Vocês estão tentando endireitar essa p… de sociedade”, afirmou. Ele também comparou a ocupação de São Bernardo ao Pinheirinho, em São José dos Campos, em 2012, que resultou em episódio de desocupação violenta, mas que chamou a atenção da sociedade para a luta e o direito por moradia.
“Este país é um barril de pólvora e já explodiu várias vezes”, afirmou Emicida, criticando também aqueles que proibiram a realização do show nesta segunda-feira. “Cadê essa coragem para lutar contra alguém que deve meio milhão?”, perguntou, fazendo referência ao montante que a construtora dona do terreno estaria devendo de IPTU da área da ocupação.
É uma área de aproximadamente 60 mil metros quadrados, sem uso há quatro décadas. A entrada da ocupação, por um barranco, é em uma rua praticamente em frente à portaria central da fábrica da Scania. Ali, em 12 de maio de 1978, os metalúrgicos iniciaram uma greve que se estenderia por outras empresas e viraria símbolo da retomada do movimento operário e de contestação ao período autoritário.
Pouco antes de ir embora, em conversa com jornalistas, Caetano Veloso lembraria da Marcha da 4ª Feira de Cinzas, composta em 1963 por Carlos Lyra e Vinícius de Moraes: "E mais do que nunca é preciso cantar, porque há muitas dificuldades".