Ex-comandante das Farc vai concorrer à presidência da Colômbia
O partido Força Alternativa Revolucionária do Comum (Farc) anunciou nesta quarta-feira (1/11) a candidatura de seu principal líder, Rodrigo Londoño Echeverri (o Timochenko), às eleições presidenciais da Colômbia em 2018.
Publicado 03/11/2017 11:34
O anúncio foi feito pelo dirigente da antiga guerrilha responsável por coordenar os acordos de paz em Havana – as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia –, Iván Márquez, em entrevista coletiva em Bogotá. Ele ressaltou que o partido entrou "totalmente na disputa política de 2018 com candidatos próprios para a presidência e para o Congresso da República".
Lodoño, conhecido como Timochenko, é presidente do partido criado em setembro na sequência da entrega completa de armas dos ex-guerrilheiros das Farc às Nações Unidas. Imelda Daza, que fez parte do movimento político Vozes de Paz, ligado às Farc, e que representou a ex-guerrilha no Congresso colombiano, vai concorrer como vice-presidente na chapa do Farc.
Timochenko foi o último comandante dos guerrilheiros e participou de forma ativa das negociações para pôr fim aos 50 anos de conflito no país. O ex-guerrilheiro está em Cuba desde junho para tratamento médico, se recuperando de um acidente vascular cerebral que afetou sua fala.
Candidaturas
As eleições legislativas para renovar o Senado e a Câmara serão realizadas em março de 2018. O primeiro turno das presidenciais será em maio.
O partido Farc também terá candidatos ao Senado e à Câmara. Caso sejam eleitos, os representantes do partido deverão se somar às dez cadeiras a que têm direito durante os próximos oito anos, de acordo com o acordo de paz. Iván Marquéz estará entre os candidatos ao Senado.
Para a Câmara, o partido lançará candidaturas por Bogotá e pelos estados de Antioquia, Valle del Cauca, Atlántico e Santander. Nas demais regiões do país, o Farc vai apoiar "candidatos de convergência social e democrática comprometidos programaticamente com a implementação dos acordos e as necessidades sociais populares", disse Iván.
"Acredito que há muito boas chances para o entendimento político com outras forças. Nós vamos concorrer pelos departamentos com maior votação", afirmou o atual líder do partido.
"Damos passagem à luta política legal num contexto em que as grandes maiorias do país esperam virar definitivamente a página da guerra com os acordos de paz", acrescentou ao pedir que "nenhuma vírgula" seja mudada no acordo de paz assinado em 24 de novembro do ano passado antes de a guerrilha se converter num partido político.
Críticas ao acordo
O ex-guerrilheiro Jesús Santrich, escolhido como líder do partido para a Câmara dos Representantes, afirmou que, se não houver uma mudança de rumos, a implementação do acordo de paz firmado entre a ex-guerrilha e o governo da Colômbia caminhará para um despenhadeiro.
"A implementação se transformou em uma irritante, asquerosa renegociação e isso não pode continuar assim", disse.
Santrich alegou que mudanças nos termos do acordo estão gerando insegurança jurídica para os mais de mil ex-combatentes que seguem presos, apesar de a lei de anistia prevista no pacto estar em vigor desde dezembro de 2016.
"Assim, nessas condições, se não houver uma mudança de rumo, o processo de implementação vai para um despenhadeiro", avaliou Santrich.
"Não queremos enganos, queremos que o acordo seja cumprido. Nós cumprimos totalmente, deixamos as armas. Pedimos ao governo que tome as decisões necessárias para que os compromissos se materializem", afirmou Marquéz.
Políticos de direita têm criticado os termos do acordo de paz, que permite aos guerrilheiros participar de atividades políticas antes de serem julgados pela Jurisdição Especial para a Paz (JEP), mecanismo judicial de transição criado no contexto do tratado de paz.