Nilze Costa e Silva: Adeus, Cristina Poeta!

 

Cristina Poeta

Adeus, Cristina Poeta, minha palhaça querida e sorridente! Aqui, lembrando você minha aluna, no curso de Escrita Criativa do Jornal O Povo, se dizendo poetisa. E aí eu falava: – Amiga, poeta é um estado de espírito, não tem sexo. E citei, cantando, os versos da Cecília Meireles: “Eu canto, porque o instante existe. E a minha vida está completa. Não sou alegre nem, sou triste. Sou Poeta!” Mas você, Cristina, nunca era triste. Só poeta.

No curso de escrita criativa não foi pedido nenhum grau de escolaridade, mas apenas um requisito: gostar de ler, e de escrever, inclusive poesia, origem de toda a nossa Literatura. Dessa forma você, que dificilmente conseguia falar o plural as palavras coletivas, conviveu no mesmo curso com estudantes graduados ou não, inclusive com a médica ortopedista Celina Corte Pinheiro (que também já viajou para o outro plano), e participaram juntas do recital poético, no Festival Vida e Arte, do jornal o Povo.

Cristina, minha sorridente poeta que gargalhava nas situações mais aflitivas… Como daquela vez em que você me ligou pedindo ajuda porque sua casa tinha sido alagada pelas águas do riacho Genibaú. Chovia torrencialmente em Fortaleza. – E por que você está rindo tanto, Cristina? – Perguntei. – Eu tô rindo é das galinhas! Trepadas em cima do fogão com medo da água. E os gatos? (outra gargalhada). Tudo em cima da geladeira com medo da água fria!

Cristina era assim… Depois do curso, não parou mais de ser poeta, rimava em qualquer situação, até quando foi fazer sua propaganda eleitoral na TV. Ao final, sempre o bordão: “Ah, se eu ganho!”

Quando a presidenta Dilma Rousseff esteve no Ceará para o programa Diálogos, no Centro de Eventos, recebeu vários bilhetes e cartinhas de um auditório repleto. Mas foram os seus versos de cordel que a Dilma leu e foi muito aplaudida.

Na Bienal Internacional do livro deste ano, lá estava você, Cristina Poeta, vestida de palhaça, recitando seus cordéis! Lembro você militante, participando de vários eventos da cidade, como conferências de mulheres e de saúde. Era risonha, mas também briguenta, quando precisava defender os seus ideais. Não bebia nem fumava. Mas se encontrasse as amigas e amigos numa mesa de bar, logo se enturmava, começava a rimar e a gargalhar.

Não sei de onde você veio Cristina. Apareceu assim de repente e, mesmo quando passávamos anos sem nos ver, sempre telefonava. – Nilze, eu já tenho até Orkut! Nilze, eu tenho até Facebook! Nilze, eu já tenho zap, anota meu número!

Para você tudo era novidade, menos ser atacada assim ainda jovem, em meio a essa incontrolável violência que assola a nossa Fortaleza. Dois tiros de um assaltante lhe ceifaram a vida. Mas seu espírito com certeza vai continuar poetando por esse mundão eterno.

*Nilze Costa e Silva é escritora.

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