A carta de Carlos Zannini para Cristina Kirchner

Na quarta-feira (13) Cristina Kirchner publicou em sua conta no Twitter a carta escrita a punho que recebeu de Carlos Zannini, que foi Secretário de Estado durante o mandato da presidenta e concorreu a vice-presidente em 2015 na chapa de oposição à Macri 

Cristina Kirchner e Carlos Zannini

Zannini está preso segundo a decisão de prisão preventiva dada pelo juiz Claudio Bonadio, o mesmo mandatário que pediu a também prisão preventiva de Cristina Kirchner no dia 8 de dezembro desse ano. Ambas as sentenças estão relacionadas aos ataques terroristas contra a AMIA; Zannini foi acusado de supostamente impedir a investgação dos atentados, enquanto Cristina foi detida por "traição a pátria", também por supostamente encobrir terroristas. 

Na carta, o ex-secretário dá seu apoio à Cristina e denúncia o ataque contra a legitimidade das instituições que está acontecendo no país, uma vez que os governos das "oligarquias empresariais" estão usando do aparelho judicial para cercar os líderes opositores. 

Confira a carta na íntegra: 

Queridíssima Cristina:

Quero te passar meu apoio e minha solidariedade diante do ataque infame e da agressão na qual você é objeto, diante do processo de prisão preventiva que solicita a sua destituição do Honorável Senado da Nação.

Eu acredito que a acusação se sustenta sobre uma qualificação irracional na qual o magistrado viola intencionalmente a Constituição Nacional e o Código Penal.

Uma infâmia gigantesca e aflitiva como esta é de interesse para qualquer patriota, assim como nós somos. Acima de tudo, ela adquire fronteiras de enorme gravidade e transcendência institucional.

Além de alimentar um enorme medo.

O juiz a impõe enquanto está em tramite um julgamento político do antigo magistrado da causa. O fato de, antes da decisão, ele ter consolidado os seus direitos de pensão, atrasando assim a emissão da acusação até a sua segurança, mostra a sua real intenção de escapar do foco de uma eventual disputa política.

Me pergunto por que e a pedido de quem foi tomada essa decisão tão errônea, e em todos os casos possíveis a hipótese me parece mais grave e de maior implicância institucional, ao ponto de deixar o Estado de Direito em uma situação frágil e irreparável.

Faço a seguinte reflexão:

Se o juiz crê sinceramente naquilo que escreveu e assinou, se essa é a sua visão sobre as relações internacionais e dos direitos que narrou de forma rasa, trata-se de uma pessoa mal informada que evidência uma lacuna de ignorância do direito.

Se está sendo sincero não poderia ser juiz e, além disso, deveria reconsiderar a forma de ensinar direito, para que o sistema educacional impeça e previna deformações como essa.

Se, ao contrário do que propus até aqui, ele atuou sob pressão ou a pedido do governo, que está maquinando para chegar nesse objetivo, ele também deve deixar de ser juiz, uma vez que para esse cargo na República é necessária coragem para resistir, já que se trata de uma ocupação de extrema importância institucional.

Se, assim como muitos suspeitam, agiu sob extorsão daqueles que podem ou não ser parte do governo, a situação é de maior risco institucional porque configuraria no caso de juízes extorquidos e que por sua vez também extorquem.

Se fosse esse o caso, e se o governo não estivesse consciente da ação de um personagem sinistro, seriamos obrigados, se solicitado, a ajuda-lo em colocar um fim nessa situação escandalosa.

Não existe, portanto, hipótese tranquila e as instituições estão correndo grave perigo.

A única coisa clara é que o único e real objetivo é justificar a sua destituição. A acusação de Traição à Pátria, lei que tanto defendemos, é para impedir a sua presença semanal no Senado.
Macri representa a nova investida da oligarquia empresarial para acabar com os direitos de tal maneira que se consagre, junto com a exclusão social, a exclusão política de toda a oposição.

Ao que tudo indica 2018 será um ano chave para a representação política institucional, a representação sindical dos trabalhadores e para os Governos de província, hoje encurralados.

O Parlamento Nacional será um cenário político inocultável para qualquer blindagem midiática, graças a sua presença e a de tantos outros companheiros.

Os representantes sindicais dos trabalhadores poderão provar que, além de marchar para não pagar impostos sobre os rendimentos, eles sabem também como fazer para evitar retrocessos dos direitos do trabalhador e o roubo nos bolsos dos aposentados.

Os governos deverão proteger os direitos de suas Províncias, sem ceder às pressões.

Nesse panorama, a sua presença semanal com voz e voto no Senado atrairá e impactará a todos, seus aliados e não aliados, mas também aos misóginos presentes e todos aqueles que sonham em domesticar a política para coloca-la a serviço da exclusão social e política tanto sonhada pela oligarquia empresarial.

Conheço a sua resistência e sua força, porque você não desistiu quando Néstor estava perdendo e não afrouxou quando atacou Maximus e Florença.

Agora eles tentam te vencer através de uma causa explicitamente política, porém não deve haver confusão: estão buscando criminalizar a participação de um Governo Constitucional.

Tenho claro para mim que toda causa é política. Enquanto existem presos sem condenação e condenados midiaticamente sem julgamento prévio por um lado, do outro estão aqueles dos Correios, do Panamá e Paradise Papers, os sócios e aqueles que cobraram da Odebrecht, os favorecidos por serem parentes ou amigos do presidente da Nação, aqueles que endividaram o país, aqueles que traficam com fundos da ANSES, haverá lei penal de inimigo, criminalização dos oponentes e todos os presos serão políticos.

Espero que essas linhas, escritas de uma só vez e depois passadas às pressas para um papel, possam parecer legíveis.

Como falo sempre à minha Vasquita e aos meus filhos, dos quais sinto muito orgulho, sobre a minha prisão: não se preocupem, estou bem.

Aquilo que está me afetando hoje quem sabe um dia ocupará uma simples linha na história universal da infâmia. O núcleo, o foco principal e os capítulos mais importantes dessa história contemplarão a infâmia sofrida por aqueles que menos tem, as vítimas dos ajustes e aqueles que sofrem com as políticas que hoje se aplicam com os mesmos resultados de sempre: atraso para a Pátria e sofrimento para o povo, como em todas as vezes em que o governo esteve nas mãos da oligarquia empresarial.

Minha esperança de um mundo melhor, sem exclusão, com mais igualdade, solidariedade e proteção para as famílias e indivíduos segue intacta.

E o orgulho por ter pertencido ao governo de Néstor e ao seu também continua intacto.

Te mando um forte abraço, companheira!!!

Carlos Alberto Zannini

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