Argentina: a participação da Ford nos sequestros da ditadura militar

Ex-funcionários da Ford são julgados por cumplicidade em sequestros durante ditadura militar; segundo advogados das vítimas, elas foram presas por soldados uniformizados dentro da fábrica de Pacheco, um subúrbio ao norte da capital argentina

Ford

Três ex-executivos da fábrica da Ford em Buenos Aires estão sendo julgados, a partir desta terça-feira (19), acusados de cumplicidade no sequestro e tortura de 24 trabalhadores em 1976, no início da ditadura militar que se instalou na Argentina até 1983.

Muitos militares, policiais e civis já foram condenados por crimes cometidos durante a ditadura militar, de 1976 a 1983. Este julgamento é emblemático porque pretende evidenciar a cumplicidade do mundo corporativo com a junta militar.

O número 2 da fábrica da Ford, Pedro Müller, o chefe de segurança da fábrica, Héctor Sibilla, e o chefe do 4º Batalhão do exército, Santiago Riveros, estarão no banco dos réus. O soldado é acusado de busca ilegal, privação de liberdade, ameaças e maus-tratos. Müller, de 86 anos, e Sibilla, de 91 anos, são acusados ​​de cumplicidade por fornecerem os meios necessários para cometer esses crimes.

Vítimas torturadas por doze horas

Alguns dos 24 funcionários eram sindicalizados, os outros eram trabalhadores comuns, mas nenhum deles era membro dos movimentos de guerrilha contra o qual o regime militar estava lutando. De acordo com advogados dos ex-funcionários da montadora, as vítimas foram presas por soldados uniformizados dentro da fábrica de Pacheco, um subúrbio ao norte da capital argentina.


Eles foram torturados por doze horas antes de serem enviados para a prisão. Os trabalhadores foram presos entre 24 de março de 1976, data do golpe militar e agosto do mesmo ano.
Cumplicidade da Ford

"Naquele 24 de março, fomos presos por ordem da empresa. Quarenta anos depois, é importante que a justiça seja feita. A fábrica da Ford de Pacheco era um centro de detenção e tortura. Não recebi nada, nem uma palavra, nem um arrependimento, nada", denuncia uma das vítimas.

A vítima considera que os funcionários da Ford desempenharam um papel fundamental na identificação de trabalhadores que exerciam atividades sindicais e disponibilizaram as instalações da empresa que eram utilizadas como salas de tortura.

Fim da impunidade

Desde 2005, após anos de impunidade, centenas de torturadores e policiais, incluindo ex-líderes da junta militar, foram sentenciados e presos na Argentina. O "julgamento da Ford", como é chamado na Argentina, deve durar vários meses.