EUA permanecem no acordo nuclear com Irã, mas tensões persistem
O presidente Donald Trump anunciou, na sexta-feira (12), que irá manter o acordo nuclear com o Irã, mas deixou clara a sua insatisfação com o fato. Enquanto a União Europeia se posicionou novamente a favor do acordo, o presidente norte-americano fez declarações que prolongarão o clima de tensão
Publicado 16/01/2018 17:29
Em seu discurso, no qual anunciou a permanência dos Estados Unidos no acordo nuclear do Irã, Trump também fez um ultimato: para ele, esse é a “última vez” que isenta o Irã, e avisou os países europeus para que revejam o acordo e corrijam seus “erros terríveis”. “Essa é a última hipótese. Caso não haja um acordo [entre os EUA e os países europeus], os Estados Unidos não irão manter a anulação das sanções para continuar no acordo nuclear iraniano”, afirmou Trump.
O aviso vem do isolamento de Trump quanto a rejeição do acordo. Na semana passada, os chefes diplomatas da União Europeia receberam o ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, e reiteraram a sua confiança e seu apoio ao pacto, opondo-se à Administração Trump. "A unidade é essencial para preservar um acordo que está funcionando, mantendo o mundo mais seguro e prevenindo uma corrida às armas nucleares na região", disse a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, citada pelo jornal português Público.
As palavras de Trump causaram pressão sobre a Europa, segundo o jornalista João Ruela Ribeiro, uma vez que essa não quer correr o risco de ver o acordo que abriu o mercado iraniano às empresas quebrado unilateralmente.
“Apesar da minha forte inclinação para fazer isso, ainda não retirei os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã”, afirmou o presidente dos EUA no comunicado em que justificava a decisão de revalidar a sua assinatura na suspensão das sanções, indo contra a unanimidade. Javad Zarif reafirmou no sábado (13) que o acordo é “inegociável” e identificou as declarações de Trump como “uma tentativa desesperada de colocar em risco um acordo multilateral sólido”. Já a Rússia considerou os comentários de Trump “extremamente negativos”.
O acordo foi assinado em 2015 pelo Irã, os Estados Unidos, a China e outros quatro países europeus (Alemanha, França, Reino Unido e Rússia), permitindo o congelamento do programa nuclear iraniano em troca do fim das sanções econômicas impostas contra o Irã.
Tensão continua e seguem negociações na Casa Branca
Mesmo que os Estados Unidos não tenham saído do acordo, a tensão continua após as palavras proferidas por Trump. Isso porque daqui a alguns meses (dentro de 120 dias) os EUA precisam rever a manutenção do bloqueio das sanções. Espera-se que nesse período a Casa Branca inicie um intenso processo de negociações para tentar salvar o acordo.
Os senadores Bob Corke, republicano que lidera a comissão das Relações Exteriores, e o democrata Ben Cardin tentam encontrar uma solução, ainda segundo informações do Publico. As propostas legislativas devem agradar aos congressistas que defendem uma postura mais dura em relação ao Irã e ao mesmo tempo assegurar que o acordo se mantenha em vigor.
“Não vamos ter votos democratas para reescrever o acordo, mas também será difícil imaginar como é que se pode conseguir votos republicanos se não for alterado o acordo”, disse o senador democrata Chris Murphy para o site Politico.
Trump exige uma revisão do acordo que garanta o acesso imediato de inspetores internacionais aos locais de desenvolvimento nuclear no Irã, e o aumento indefinido do período em que o Irã deve respeitar limites para o enriquecimento de urânio e outras atividades relacionadas com o nuclear. Apesar de suas exigências, sabe-se que sua administração tem planos de facilitar a utilização do armamento nuclear norte-americano, flexibilizando os limites para a utilização de armas nucleares e criando uma nova ogiva de baixo rendimento que possa ser transportada pelos seus mísseis balísticos intercontinentais.