EUA: a ligação entre assassinatos recentes e um grupo neonazista

Uma série de assassinatos nos Estados Unidos pareciam ser estranhos – mas uma investigação da ProPublica, o grupo de jornalismo de investigação sem fins lucrativos, liga todos a um grupo neonazista: a Atomwaffe Division

neonazismo nos EUA - Reuters

Atomwaffe é uma palavra alemã que designa "arma nuclear". O grupo não defende combates "online", mas sim que seus membros estejam empenhados em cometer atos violentos para derrubar o governo americano através de terrorismo.

No inicio, era dois casos que chamaram a atenção da polícia: o de um jovem que era neonazi e se converteu ao salafismo (movimento ortodoxo ultraconservador dentro do islamismo sunita, tomando uma abordagem fundamentalista do Islã), matando dois companheiros de quarto que pertenciam ao mesmo grupo, em meados de 2017 na Florida e o de um casal que, após pedir para a filha se afastar do namorado por este ter simpatia por ideias da extrema-direita, foi morto a tiros pelo namorado da menina. 

A Atomwaffe Division formou-se em 2015, tem cerca de 80 membros, e apesar do grau de ligação aos assassinatos ainda estar sob investigação, as autoridades começaram a levar a sério as ameaças do grupo. 

Além do fascínio pelo assassino Charles Manson e a sua ideia de guerra racial apocalíptica na América, o grupo faz regularmente “campos de ódio”, em que são feitos exercícios de treino do tipo militar ao ar livre.

A investigação da ProPublica liga o assassino de Blaze Bernstein, estudante de 19 anos, judeu e homossexual, em Orange County, Califórnia, ao grupo. Samuel Woodward, que enfrenta julgamento pela morte de Bernstein, era membro da Atomwaffe Division desde 2016. Ele aparece em um vídeo de um campo de treino do grupo no Texas e em algumas fotografias. Nas redes sociais, em conteúdo apenas disponível para os seus amigos, Woodward identificava-se abertamente como “nacional-socialista”.

O grupo distingue-se de outros da extrema-direita, ou alt-right, que ganharam recentemente força nos Estados Unidos, uma vez que nem tentam se se distanciar do nazismo: usam abertamente suas imagens, simbolos e ideias, informa a ProPublica.

O assassínio de Bernstein, atingido por 20 golpes de faca, poderá ser julgado como crime de ódio.

Este foi o mais recente crime com aparente ligação ao grupo – o primeiro ocorreu em maio de 2017, quando a polícia em Tampa, Florida, prendeu Devon Arthurs, 18 anos, pela morte de dois companheiros de quarto, Andrew Oneschuck, 18 anos, e Jeremy Himmelman, 22.

Arthurs foi detido quando entrou numa tabacaria de arma em punho e disse a quem lá estava: “dêem-me uma boa razão para não matar vocês”. A polícia acabou por chegar e convenceu Arthurs a libertar os reféns e a sair sem violência, depois dele dizer que tinha acabado de matar os companheiros de quarto.

Arthurs e as vítimas pertenciam ao grupo, assim como um quarto membro, Brandon Russell. Preparariam um ataque a uma central nuclear na Florida e tinham em sua posse armas e explosivos. Russell admitiu ter fabricado os explosivos e foi condenado a cinco anos de prisão por posse ilegal de explosivos.

No entanto, o fato de Arthurs ter passado repentinamente do neonazismo para o salafismo, tendo adotado um nome muçulmano, e o fato de haver indícios de sofrer de algum distúrbio, levou o juiz encarregado do caso a pedir uma avaliação psiquiátrica em janeiro.

O outro caso com ligações ao grupo extremista data de dezembro de 2017, quando um suspeito de ser membro assassinou os pais da namorada e em seguida disparou contra si próprio. Sobreviveu mas ficou em estado grave. A polícia não identificou o autor dos disparos, já que era um menor de idade.

Scott Fricker, de 48 anos, e a mulher Buckley Kuhn-Fricker, de 43, foram assassinados depois de terem avisado a filha para não manter a relação com o namorado por causa das ideias extremistas do mesmo. Dois meses antes, ele tinha cortado o gramado de um campo comunitário, formando o desenho de uma suástica.

Segundo o jornal americano The New York Times, Buckley Kuhn-Fricker fez queixa do namorado da filha à escola por esse incitar o ódio nas redes sociais, embora não tenha mencionado que ele pertencia ao grupo extremista em suas publicações. 

Mais tarde o Huffington Post noticiava que o jovem partilhava, no Twitter, mensagens da Atomwaffe Division, incluindo do livro de Manson em que é defendida uma guerra racial, e ideias para “convencer as pessoas transgênero se matarem” ou como “usar judeus para praticar tiro”.

O grau de ligação é ainda incerto – mas se não era membro, era pelo menos simpatizante do grupo.