Por ingressos mais baratos e um plano popular de sócio-torcedor
O torcedor deve ser o coração, e não o bolso no clube. Os preços dos ingressos determinados pelo Palmeiras para o jogo contra o Alianza Lima, estreia na Libertadores de 2018 em São Paulo, mostram que há uma decisão por parte da diretoria do clube que deve ser reavaliada.
Por Mauro Beting*
Publicado 26/03/2018 18:22
Democraticamente, o Ocupa Palestra vem, por este manifesto, apresentar razões para a insatisfação dos torcedores e apresentar sugestões para usar o Allianz Parque de forma equilibrada, como fonte de receita e ao mesmo tempo objeto de paixão do torcedor.
Interessados no sucesso do Palmeiras dentro e fora de campo, reforçamos nosso apoio incondicional ao Palmeiras nos jogos finais do Campeonato Paulista e neste início de Libertadores. É no intuito de contribuir para que o Palmeiras avance ainda mais, que lançamos este manifesto pedindo razoabilidade nos preços dos ingressos e nas políticas que envolvem o acesso de todo torcedor ao Palmeiras. Queremos fazer parte desta caminhada: nas ruas, nos estádios, e onde mais o Palmeiras nos levar.
Entendemos que é possível alterar o atual modelo de negócios para buscar, com a mesma renda, incluir mais torcedores. Transformar o Allianz Parque em um verdadeiro caldeirão, sempre com casa cheia, dando espaço para torcedores de todas as classes sociais.
Hoje, a diretoria do Palmeiras alega que o valor mais alto nas partidas mais cobiçadas serve para premiar os sócios mais leais do Avanti, que comparecem em vários jogos considerados menos atrativos e se mantêm com rating de quatro ou cinco estrelas, a fim de garantir a prioridade da compra. Esses sócios, que pertencem ao Plano Ouro e pagam mensalmente R$ 119,99 ao clube, têm o direito de entrar de graça quando conseguem ingressos para os setores Gol Norte e Superior Norte. O Avanti Platina, que custa R$ 214,99 ao mês, garante ingresso grátis também no Gol Sul. O problema é que tais ingressos se esgotam muito rapidamente em grandes jogos e, mesmo os sócios destes planos, são afetados pelo aumento dos ingressos em jogos importantes.
Quem paga o Avanti Prata têm desconto de 50%, mas geralmente só vai conseguir ingresso nos setores mais caros, como o Superior Sul ou o Central Oeste. Ou seja, os “premiados”, de acordo com a diretoria, constituem uma grupo de privilegiados que têm a possibilidade de contribuir com uma razoável quantia mensal, superior a 10% do salário mínimo em vigor no Brasil, e também de frequentar a maior parte dos jogos. O torcedor que estuda ou trabalha à noite, por exemplo, já sai prejudicado nesta disputa. Aquele que mora no interior, idem.
O que acontece? Os setores mais caros frequentemente ficam vazios. Foi o caso da última quarta-feira, quando cerca de 25 mil pessoas viram a partida contra o Novorizontino, e 15 mil lugares no estádio ficaram vazios. A renda de R$ 1,5 milhão é excelente, mas ela poderia ser alcançada com uma redução nos valores dos ingressos que faria com que mais gente estivesse no estádio. O que é melhor: 25 mil torcedores pagando em média 60 reais ou 40 mil pagando 40 reais e gerando uma renda de R$ 1,6 milhão?
O jogo contra o Alianza terá ingressos mais caros que os cobrados pelo Real Madrid na Liga dos Campeões. Pela ansiedade dos torcedores com a estreia na “obsessão” Libertadores, certamente terá grande público e pode corroborar a visão equivocada de que a precificação das entradas estaria adequada, mas trata-se de uma visão equivocada, que só traz benefícios de curto prazo.
Afinal, o clube não ganha só com o ingresso: um público menor consome menos nas lanchonetes e lojas do estádio, renda potencial que o clube abre mão de arrecadar. Além disso, o estádio menos cheio é menos vibrante; com ingressos mais em conta, é possível reproduzir a atmosfera das grandes decisões em todas as partidas. Por mais que a diretoria julgue como bem-sucedida a atual política de precificação, o fato é que há uma média de 7 mil a 8 mil espaços vazios em pouco mais de três anos de estádio.
É preciso inovar e avançar em busca da exploração de potencialidades e buscar arranjos que permitam ao Palmeiras, em pleno tributo às suas raízes, ser um clube inclusivo, garantindo acesso ao estádio para a parcela da torcida que vem sendo alijada e permitindo um aumento de público que vai alimentar toda a cadeia produtiva em torno da marca Palmeiras.
A chance de estar no estádio potencializa a paixão do torcedor. Garante a ele a sensação de pertencimento, de fazer parte daquela coletividade de milhares de pessoas que compartilham com ele seu amor por aquelas cores, aqueles jogadores, aquele time. Essa sensação é que vai levar o torcedor a acompanhar o clube continuamente, a adquirir produtos e gerar mais receitas ao clube.
Além da redução geral no preço dos ingressos, queremos aqui sugerir a criação de um plano popular para o Avanti – como já existe com o plano Bronze, mas que dê benefícios reais na aquisição de ingressos, como descontos e prioridades na pré-venda. Esse novo plano aproveitaria a capacidade ociosa do estádio por meio de promoções que possam privilegiar o público hoje afastado do estádio. Ingressos não vendidos até poucas horas antes do jogo, por exemplo, podem ser disponibilizados a preço acessível a crianças, aposentados e palmeirenses de baixa renda, cadastrados previamente sob condições a serem discutidas – por exemplo, um limite de renda ou inscrição em projetos sociais do poder público.
Vale lembrar que, como associação esportiva, o Palmeiras tem isenção fiscal por exercer atividades de cunho social, esportivo e cultural. Tratar o torcedor simplesmente como um consumidor pode colocar em xeque este benefício. Já adotar um plano de sócio-torcedor com viés inclusivo seria colocar em prática esse lado social, garantindo ao mesmo tempo a chance de fidelizar mais torcedores e ampliar o potencial de arrecadação sem fazer com que os torcedores se sintam extorquidos – impressão geral que se abateu sobre a coletividade palmeirense após o anúncio dos preços para o jogo contra o Alianza.
Como se não bastasse, esse público de baixa renda, para quem o Palmeiras tem virado as costas nos últimos anos, é o público-alvo preferencial da patrocinadora que tem injetado milhões no clube recentemente. É possível pensar em projetos que fortaleçam ainda mais os laços entre clube e parceira e que ajudem a encher o Allianz Parque e torná-lo ainda mais vibrante. Ultimamente, esse público até dos arredores do estádio tem sido afastado, pelo ilegal cerco sugerido pelas autoridades e endossado pelo clube; uma festa como a da final da Copa do Brasil de 2015, hoje, seria impossível.
São algumas ideias que levamos à diretoria para debate, como torcedores que somos, interessados no sucesso do Palmeiras dentro e fora de campo. Sabemos que vitórias e títulos são consequência de grandes investimentos, e que para isso é preciso dinheiro; não achamos justo, porém, que o torcedor tenha que arcar sozinho com o encarecimento que atinge o mundo do futebol nos últimos anos. Futebol moderno não precisa e não deve ser sinônimo de futebol caro, elitizado, para poucos.
Nascido como o clube dos imigrantes, o Palmeiras deu uma arrancada que o fez o clube de todos. E não pode, com o passar dos anos, se tornar um clube de poucos, com o risco de, no longo prazo, se tornar o clube de ninguém. Pensar socialmente é também pensar longe, e por isso propomos aqui tal reflexão.
Movimento Ocupa Palestra
O Ocupa Palestra é um movimento feito por torcedoras e torcedores palmeirenses que buscam reverter os bloqueios ilícitos que impedem a circulação de pessoas ao redor do clube em dias de jogos e promover um Palmeiras mais inclusivo e popular. O Ocupa Palestra está no Twitter, no Facebook e no Instagram. Faça parte deste movimento.
Para assinar o manifesto, entre em contato conosco nas redes sociais!
Apoiam o manifesto ‘Por ingressos mais baratos e um plano popular de sócio-torcedor’:
Joelmir Beting, nome da sala de entrevistas do Allianz Parque, direto do céu
Alexsandro de Souza (Alex), campeão da Libertadores pelo Palmeiras e um sortudo em ter jogado com a camisa alviverde
César Maluco, campeão brasileiro pelo Palmeiras e conselheiro da Sociedade Esportiva Palmeiras
Antônio Carlos Blanes, conselheiro da Sociedade Esportiva Palmeiras
Antônio Carlos de Carvalho, conselheiro da Sociedade Esportiva Palmeiras
Danilo Martins Yoshioka, jornalista, palmeirense e fotógrafo
Felipe Giocondo, conselheiro da Sociedade Esportiva Palmeiras
José Luiz Portella, conselheiro da Sociedade Esportiva Palmeiras
Marcos Antonio Gama, conselheiro da Sociedade Esportiva Palmeiras
Sylvio Mukai, conselheiro da Sociedade Esportiva Palmeiras
Luiz Gonzaga Belluzzo, presidente da Sociedade Esportiva Palmeiras em 2009 e 2010
Marcelo Moisés Moura Lima, presidente da TUP – Torcida Uniformizada do Palmeiras
Nelson Ferraz (Atibaia), ex-presidente da Mancha Verde
Aldo Rebelo, palmeirense, foi presidente da Câmara dos Deputados e Ministro de Estado do Esporte
Alex Muller, palmeirense e jornalista
Fernando Cesarotti, palmeirense e jornalista
Flávio de Campos, palmeirense e professor do Departamento de História da USP
Gabriel Galípolo, palmeirense e economista
Gabriel Amorim, palmeirense e jornalista
Gustavo Petta, palmeirense, vereador de Campinas e foi presidente da UNE
Leandro Iamin, palmeirense e jornalista
Mauro Beting, palmeirense
Mauro Pirata, palmeirense, cantor e compositor
Miguel Nicolelis, palmeirense e neurocientista
Ricardo Berzoini, palmeirense, foi deputado federal e Ministro de Estado
Roberto Garibe, palmeirense e foi Secretário Municipal de Infraestrutura Urbana de SP
Simão Pedro, palmeirense e foi deputado estadual e Secretário Municipal de Serviços de SP
Sonia Francine, palmeirense e vereadora de São Paulo
Venilton Tadini, palmeirense e presidente-executivo da Associação Brasileira da In¬fraestrutura e Indústrias de Base (Abdib)