Rússia responde e expulsa 60 diplomatas norte-americanos

A Rússia vai expulsar 60 diplomatas americanos e fechará o consulado dos Estados Unidos em São Petersburgo, medidas idênticas aquelas adotadas por Washington contra Moscou pelo caso Skripal, que ainda não teve a investigação concluida e nada foi provado sobre o envolvimento da Rússia. A declaração foi feita nessa quinta-feira (29) pelo chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov

Sergei Lavrov

A Rússia anunciou essa quinta-feira (29) um conjunto de medidas que visam responder à expulsão de diplomatas por parte vários países, na sequência do ataque com um agente neurotóxico a um ex-espião russo em solo britânico, que Londres atribui a Moscou, apesar da investigação não ter ainda conclusão e de não existirem provas contra a Rússia. O governo russo nega qualquer envolvimento no crime.

Por hora, Lavrov anunciou a expulsão de 60 diplomatas norte-americanos e o fechamento do consulado dos EUA em São Petersburgo. O objetivo é responder a expulsão do mesmo número de diplomatas russos por Washington, anunciada nessa semana, e ao fechamento do consulado russo em Seattle.

Lavrov revelou ainda que a Rússia vai convocar uma reunião da Organização para a Proibição de Armas Químicas para a próxima segunda-feira (2) com o objetivo de investigar e discutir o envenenamento de Skripal. Uma rejeição desse encontro, disse Lavrov, será interpretada por Moscou como uma "prova" de que as acusações contra a Rússia não passam de uma "provocação".

O ataque contra Skripal foi a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que o agente neurotóxico em causa, uma arma química supostamente produzida na Rússia, foi utilizado na Europa. O ex-espião continua internado em estado crítico, mas a filha, que estava com ele no momento do ataque e foi exposta ao agente Novichok, está apresentando melhoras. 

Skripal, de 66 anos, tinha sido condenado a 13 anos de prisão pela Rússia, em agosto de 2006, por ter revelado a identidade de agentes secretos russos que operavam na Europa para o serviço de agências secretas britânicas. Em 2010, foi perdoado pelo então presidente, Dmitri Medvedev, e nesse mesmo ano o Reino Unido concedeu-lhe asilo.

Segundo informa a Abril Abril, a classe de agentes nervosos "Novichock", responsável pela intoxicação grave do agente e sua filha, foi desenvolvida em um laboratório no Uzbequistão, entre as décadas de 1970 e de 1990. Cientistas iranianos, sob supervisão da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), sintetizaram cinco compostos que, alegadamente, integram a classe "Novichock" e que também estão na posse dos EUA e do Reino Unido – precisamente no laboratório de Porton Down, que fica a cerca de dez quilômetros da cidade de Salisbury. A Rússia alega ter destruído todo o seu arsenal químico declarado em setembro de 2017, de acordo com a OPAQ.

Lavrov também afirmou que os Estados Unidos podem ter coagido alguns dos países europeus a expulsarem diplomatas russos. O Kremlin apresentou na terça-feira (27) o argumento com que vai tentar quebrar a aparente união entre os Estados Unidos e as potências europeias: se os países ocidentais mais pequenos aceitaram expulsar diplomatas russos, é porque foram alvo de uma "chantagem colossal" por parte de Washington.

"Quando um ou dois diplomatas são convidados a sair deste ou daquele país com pedidos de desculpas sendo sussurrados nos nossos ouvidos, percebemos que tudo isto é o resultado de uma pressão colossal, de uma chantagem colossal, que é o principal instrumento de Washington no cenário internacional", disse Lavrov durante uma conferência sobre a guerra no Afeganistão na capital do Uzbequistão, Tasckent.