Arruda Bastos: Lula é um mito

"Infelizmente, o ódio de classes e a incapacidade de alguns, de forma genérica, de não aceitar e perceber o que o próprio Lula falou no seu histórico discurso em São Bernardo do Campo, no ABC. Ele não é mais um ser humano, é uma ideia. E não adianta tentar acabar com as ideias. As ideias de Lula já estão para sempre na alma do povo brasileiro e no mundo”.

Por Arruda Bastos*

Lula livre

Diante de brilhantes textos escritos por renomados nomes da nossa política, da imprensa, da cultura e de analistas, achei que seria desnecessário voltar a escrever sobre o nosso presidente Lula e todos os fatos acontecidos recentemente com a decretação ilegal da sua prisão, as manifestações de apoio e a revolta contra as injustiças perpetradas contra o maior líder político da história do Brasil.

Entretanto, na noite da última terça-feira (10), nas minhas contas do Twitter e Facebook, recebi algumas manifestações que resumo na pergunta de um colega que é reconhecido coxinha e também um grande amigo: “Como um excelente professor, uma pessoa inteligente, vivida, estudada, preparada, um grande médico, pode apoiar alguém como o ex-presidente Lula?”.

Essa pergunta foi o mote que, como um estopim, acendeu a chama no meu coração e o desejo de voltar a escrever, agora para abordar o lado da intolerância política e até fascista de muitas pessoas que, de forma robotizada, não democrática e levando em conta sua visão ideológica e a carga publicitária da mídia golpista, não se aprofundam no que está em jogo no Brasil.

Começando pelo questionamento, eu respondi ao meu amigo que se eu sou tudo aquilo que ele adjetivou, a resposta já estava contida na própria pergunta. Complementei dizendo que milhões de outras pessoas letradas e até sem tantas oportunidades como nós têm o mesmo conceito do Lula no Brasil e no exterior e seria bom que ele refletisse sobre o que isso representa.

Infelizmente, o ódio de classes e a incapacidade de alguns, de forma genérica, de não aceitar e perceber o que o próprio Lula falou no seu histórico discurso em São Bernardo do Campo, no ABC. Ele não é mais um ser humano, é uma ideia. E não adianta tentar acabar com as ideias. As ideias de Lula já estão para sempre na alma do povo brasileiro e no mundo.

Para continuar nessa reflexão, ainda em discurso, Lula falou do seu modo de pensar e concluiu dizendo "Eles não vão prender meus pensamentos, não vão prender meus sonhos. Se não me deixarem andar, vou andar pelas pernas de vocês. Se não me deixarem falar, falarei pela boca de vocês. Se meu coração deixar de bater, ele baterá no coração de vocês".

Outro fato importante que Lula também citou no Sindicato dos Metalúrgicos é que não adianta tentar parar seu sonho, porque quando ele próprio parar de sonhar, ele sonhará pela cabeça de todos nós. "Os poderosos podem matar 1, 2 ou 100 rosas, mas jamais conseguirão deter a chegada da primavera". Não é matando um líder que se detém uma revolução.

Lula é mais que uma ideia: é uma narrativa. Lula inventou e praticou sentidos. Ele mostrou – pela sua trajetória – que um mundo melhor é possível. Lula é um mito. Não um mito do povo brasileiro, e sim um mito – agora – da humanidade, diz o psicanalista Evaristo Magalhães e eu concordo integralmente.

Para concluir, digo com as palavras do notório psicanalista: “Ninguém na história do Brasil conseguiu chegar a esse patamar. Estamos há mais de quinhentos anos desamparados de quase tudo. Andávamos a ermo sem nada e nem ninguém para apontar o certo. Agora temos o Lula. Ele já é eterno”.

Aos amigos que questionam meu posicionamento político com relação a Lula e também o de diversos intelectuais, artistas, escritores, presidentes e ex-presidentes de países em todo o mundo, concluo dizendo que se em um tempo curto não vamos conseguir mudar a cabeça de vocês, que aceitem que Lula agora é um mito, pois como diz a música do compositor Chico Amado e sucesso na interpretação do Trio Parada Dura: Aceita, que dói menos



*Arruda Bastos é médico, professor universitário, membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, radialista, um dos coordenadores do Movimento Médicos pela Democracia.

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